Não que eu não quisesse dizer adeus. É que fazia tempo que eu não me despedia de alguém. E dizer até-nunca-mais pra ele era como extirpar um pedaço de mim. Um pedaço bom e bem vivo dentro de mim. Acabou que ele tomou minhas mãos nas suas, beijou a minha bochecha de leve e murmurou um foi-bom-enquanto-durou. É, não tinha pensado nisso. Nem um pouco. E pensar que aprendi tantas coisas boas com ele. Fazer café, falar palavrão, fumar. Aprendi que era bom acordar e ficar deitada na cama um bocado até ter vontade mesmo, aquela coisa de dentro, de levantar. O ruim é que agora lembro dele cada vez que faço um bom café. Aprendi que café bom é café amargo, com pouco açúcar. Ele me ensinou a jogar cartas também. E a escutar rock pesado. E que às vezes é bom fazer amor e outras o bom é trepar, mesmo. Carne crua. Aprendi a comer com as mãos e a não dar a mínima pro que os outros pensam. Aprendi que beber até cair dá uma ressaca brutal no outro dia. Aprendi que é ótimo ficar na varanda só de calcinha, e melhor ainda quando ele me olhava. Aprendi a ser natural. Aprendi a ser gente. E a não ser também. Aprendi a escrever. Aprendi, a duras penas, que só porque você ama alguém não há garantia que os amigos ou parentes desse alguém te amem, sabe, no mesmo patamar. E que se fodam, os putos. Aprendi que homens cozinham bem melhor que mulheres, e que comer comida feita por eles é um baita tesão. Aprendi que menáge a trois é uma merda se você não é segura o bastante. Aprendi a confiar no meu taco, embora eu não tenha um. Aprendi a aceitar minha idade sem encanar. Aprendi a consertar pia, chuveiro e outras coisas mais. Aprendi a dirigir, digamos... bem. Aprendi, também, que é um saco dirigir cinco horas direto, e aprendi a dar valor a pessoas que viajam de longe só pra estar com outras. Aprendi a não dar valor ao tempo. Aprendi a respeitar os mais velhos. Cara, aprendi tanta coisa com ele que nem lembro de tudo. E acho que não ensinei tanto, em troca. O foda de tudo isso é que ele não me ensinou a dizer adeus. Não me ensinou a lidar com as lágrimas, quando elas rolam fácil. Não me ensinou que dor de cotovelo existe mesmo, e dói pra cacete. Enfim, aprendi tudo isso à força. E que nenhum amor, paixão, tesão, ou seja lá o que você quiser chamar, por mais forte que pareça, dura pra sempre. E aí que eu vi o quão importante, na verdade, foi aquela festa dos meus pais, há alguns anos. Bodas de prata. É tempo pra burro pra se estar junto. E é preciso muito amor, tesão, paixão, força de vontade, inteligência, resiliência, paciência e todos os outros adjetivos que eu ainda não aprendi, pra dar certo. Enfim, preciso ir. O café tá esfriando e tá tocando rock pesado na tevê.
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