Eu minto para mim mesmo ao acordar.
Sol e brisa se despedem.
Sou uma meretriz; uma rapariga; uma mulher-da-vida.
Sou uma puta.
Aliás, sou pior que isso, que me perdoem as putas.
Uma puta vende, entre gemidos, o corpo.
Eu vendo, calado, a mente,
Enquanto minh'alma agoniza, no cativeiro do corpo,
Fragmentos de sonhos,
Música e cor.
Vivo na lei alheia.
Desrespeitam minha forma, minha barba e meu cabelo.
O modo de me vestir.
Assim sigo, escravo de outrem,
Demoralizo-me.
Uma puta termina o dia com manchas de esperma, vinho, champanhe e cigarro.
Meu dia é um interminável branco, manchado de sangue, sofrimento e dor.
E até o cigarro que fumo é questionado.
Medicus quandoque sanat, saepe lenit et semper solatium est.
E a minha dor? Quem há de curar?
Lua e maresia me recebem.
E minto para mim mesmo ao dormir.
...Quando durmo.
(Agradecimentos especiais ao meu cigarro, à noite e às luzes da cidade, que nunca fecharam os ouvidos aos meus pensamentos e divagações.)
Um comentário:
Maravilhoso, amor! Tais escrevendo bem demais, que orgulho! Já, já chego e levo uma luzinha pra essa escravidão. Te amo demais da conta ;**
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