Chegou no prédio onde morava, estava a mulher a arremessar todos seus pertences pela janela. Com sorte, suas revistas de mulher pelada e sua coleção inteira de filmes pornôs estavam caindo no macio do jardim, no térreo. Sua televisão de quarenta e duas polegadas e diversas garrafas de uísque doze anos não tiveram a mesma sorte.
- Janaína, mas que porra é essa mulher?!
- Seu canalha idiota, a puta da tua mãe só te ensinou sacanagem mesmo, não é? Da próxima vez que você for botar no cu daquela vadia, ao menos não vai beber com ela os uísques que eu ajudei a pagar!!
- Meu amor, pare com isso... Eu não tive nada com a Socorr [e nessa hora mordeu a língua, percebendo a grande merda que tinha feito].
- Ah, então o nome dela é Socorro! Diga, Socorro de quê, que eu vou agora mesmo encher a boceta daquela quenga com sabão Omo. Ao menos uma vez na vida essas tais "microesferas de limpeza" vão servir pra alguma coisa.
- Janaína!
Pela pirueta que o computador e o home-theater deram antes de se espatifarem no chão, e pela cara de indiferença da mulher, ele percebeu que teria de subir para falar-lhe pessoalmente.
- Amor, vamos deixar de bobagem, você sabe que eu te amo. A Socorro é apenas uma colega de trabalho.
- Isso é o que você sempre diz. Só se você trabalhar num bordel pra ter tanta rapariga como colega de trabalho. Vá pra puta que te pariu, seu [seus gritos foram abafados quando ele avançou sobre ela, beijou-lhe a boca, contendo-a com um abraço forte].
- Janaína, você sabe que ela não significa nada pra mim, eu te juro que se aconteceu alguma coisa entre a gente eu quero que chova canivete na minha cabeça.
Ela parou e analisou a situação em pensamento. "Apesar de tudo, é sempre pra mim que esse canalha volta. Tanta bunda por aí, e é a minha que ele quer pra ser dele." E, a despeito do absurdo de sua análise, ela o abraçou, o olho pecorrendo a casa: móveis, pratos, eletrodomésticos (e toda e qualquer coisa que os olhos pudessem enxergar) estavam destroçados. "Pelo menos esse filho da puta vai gastar mais uma nota comigo", e beijou-o na boca, arrastando o homem incrédulo pelo cinto, para a cama de casal semi-destruída. No outro dia, sem se lembrar de outra noite em que tivessem esfolado de tal maneira o seu pênis de tanto sexo, saiu pro trabalho, a pé, já que Janaína tinha também destruído a chave, pára-brisa e janelas do automóvel.
E quando virou a primeira esquina em direção à parada de ônibus, pôs a pasta sobre a cabeça para livrar ao menos os olhos dos canivetes.