É chegada a hora.
O momento de silêncio absoluto
Em que cada suspiro é total
E impressionantemente audível
E é sabido;
O praticante toma consciência
Em cada pêlo e cada poro
De seu frágil corpo em morte progressiva:
Ele é capaz de tocar o vazio
De experimentar o nada
Um nanossegundo ou um milênio
São a mesma e indefinida coisa
Fecha os olhos para a luz
Fecha o corpo para a dor
Apenas a alma levita
Incólume
Intocável
Indestrutível
Invulnerável...
A selva de pedra grita mais meia centena
De buzinas e sirenes
Quando o escuro da noite cai sobre os homens
E abre milhares de olhos-luz
Pontilhando o breu de esperança
Enquanto a cidade cospe novos segundos de vida
Sobre os que dormem
Alheios
Ignorantes
Então o sol abre seu único olho flamejante
A névoa se desfaz
E pássaros coroam a alvorada com seu grito tênue de vida
O olho do praticante está aberto
Ele sempre esteve.
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