18 de out. de 2008

Seis da manhã.

Na praça, a calma de sempre. Velhos jogando dominó, pombos, crianças, bicicletas, carrinhos de pipoca, de cachorro quente. Ônibus e carros cruzando as ruas ao redor. Não fosse pelo casaco listrado em vermelho e branco, ninguém notaria o casal de namorados sentado no banco. Os corações em compasso. Mas havia algo entre eles talvez tão frio quanto a manhã daquela segunda-feira. Era saudade anunciada. Prenúncio da falta mútua. Buzinas, piados, gemidos, gritos, campainhas. Tantos sons... E o único que conseguiu atravessar o abismo e quebrar o silêncio pesado entre eles foi a voz feminina que disse "Eu te amo". O beijo quente, antítese do frio que fazia, foi um 'adeus' em código. Por último tocaram-se os dedos e os olhares, e ambos misturaram-se à paisagem apagada da cidade. Enquanto fazia o caminho inverso para casa, olhos rasos d'água, o corpo dele murmurou, lúgubre, a única resposta que poderia ter dado em lugar do beijo:

(Eu também, meu amor. Eu também.)