28 de abr. de 2009

Felicidade é se sentir indispensável para alguém.

15 de abr. de 2009

Por quê, eu me pergunto,

Por que o caminho de volta ainda é mais longo?
Por que, a cada passo à frente,
Mais do meu coração fica para trás?

Por que faço perguntas cujas respostas estão tão claras para mim quanto esta manhã de quarta-feira?

12 de abr. de 2009

Tomando nota:

"I left my lady in the launderette
You can put some money on it, you can place a little bet
That when I see my lady
The black will be white and the white will be black
But the blues are still blue"

Belle And Sebastian - The Blues Are Still Blue

6 de abr. de 2009

Eu mal tinha me recuperado das dores da noite anterior. Pra ser bem sincero, eu já tinha quebrado todos os conceitos que eu conhecia de dor. O que eu sentia, em verdade, era uma dormência esquisita. Um dia inteiro com aquela porra de coturno e você esquece que tem dedos.
Olhei pro lado, ainda ardia a derradeira brasa na fogueira. Vermelho-vivo contra o escuro da noite. Era até bonito. Terminei de acordar com os gritos do oficial ao ouvido. Levantem, ratos, ele dizia. Não sabia que ratos usavam capacete, ou montavam fuzis, ou faziam turnos de vigia à noite, limpando o sangue da baioneta. O colega do lado murmurava sempre a mesma coisa, vá à merda, vá à merda, filho da puta. Levantem, ratos, o inimigo não dorme! Eu ria daquilo. Não sei se eu ria porque eu acreditava que já tinha atingido o fundo do poço, afinal o inferno não podia ser tão diferente daquilo, ou pra disfarçar a vontade de chorar. Aquilo era foda. Me imaginava todo dia desertando. O pelotão de fuzilamento. Meu corpo no muro, seria rápido. Mas eu carregava uma foto dos meus pais e irmão, outra da minha mulher, eu sentia mais vergonha que coragem de admitir que eu não agüentava mais. Eu não agüento mais, meu corpo gritava. Dizem que a Lei de Murphy é infalível: pra completar, começou a chover. Levantem, ratos! Chegou a hora! O que se seguia me lembrava filme de terror, centenas de mortos-vivos saindo dos buracos. Era aquilo que éramos, mortos-vivos. Levantem, ratos! O grito do oficial ribombava nos quatro cantos da minha cabeça. Cada pedaço que eu ainda sentia do meu corpo desejava que aquilo acabasse. Talvez eu tenha sido atendido. Eu e mais dois colegas de divisão fomos premiados com um morteiro. Consegui abrir os olhos ainda, pra ver o desespero geral, adolescentes, padeiros, comerciantes, desempregados, garçons, mecânicos, vigias, fotógrafos, escritores, cantores, motoristas, pedreiros, bêbados, fumantes, salafrários, golpistas, cozinheiros, eu via tudo, menos soldados, correndo tentando salvar a própria pele. Consegui abrir os olhos ainda, pra ver a brasa ao meu lado, ainda vermelha, como o sangue que eu via em todo canto. Era eu que apagava. Vamos, vermes! Avante! Ainda ouvia os gritos do oficial, mas eu tava apagando, a brasa ali ainda acesa. Tudo ficou borrado. Eu não via mais nada, pelo menos também não ouvia o filho da puta gritando, pelo menos não sentia mais dor. Morri aos vinte e três anos, nem cheguei a conhecer o filho que deixei no ventre da minha mulher. Não voltei a ver meus pais nem meu irmão. Ironicamente, recebi uma condecoração póstuma. Fui considerado herói de guerra, pela bravura concedida em favor da pátria, sem nunca ter sequer disparado o rifle que eu carregava. Meu nome gravado em uma pedra, talvez escrito menor que naquelas letrinhas miúdas de contrato. Pra desespero da minha mãe, não encontraram todos os pedaços do quebra-cabeça. Preferiram improvisar na lápide. Aqui jaz a lembrança de um rebento querido e amado esposo. Lembrei daquele pedaço de carvão naquele dia de chuva, lutando, como eu, para manter-se aceso.