1 de jun. de 2009

Franziu o cenho, sisudo, a pele do rosto enrugada. Cruzou as mãos por sobre a bengala, o olhar fixo no céu escuro da noite, apenas o claro da lua reluzindo em seus olhos. Um blues clássico tocando no som em cima de uma cadeira plástica ao seu lado. Os sulcos nos cantos da boca denunciavam risadas antigas, as rugas nos lábios de quem se divertia assoviando ao ritmo da música. Recostou-se na pilastra do alpendre, atento agora ao ponto próximo ao coqueiro. As memórias fervilhando na mente, reflexos de outras primaveras, resquícios de sua mocidade. Viu a si mesmo, anos mais novo, recostado ao coqueiro. E como se apertasse um botão, acelerou-se o tempo. Estava ali ele, abraçado a uma garota. Observou-a deslizar a mão por sobre sua cabeça, viu a própria cara de satisfação. Chegou até a sentir a mão em seus cabelos cor de prata. As costas curvadas pelo peso dos anos. Aí percebeu ela ali ao seu lado. O mesmo sorriso. Os mesmos olhos agudos observando-o mergulhar nas lembranças. Abraçou-o por trás, beijou-lhe as costas e, devagar, respeitando as juntas calejadas, sentaram ao lado da mesinha na varanda. Uma só silhueta sob a lâmpada.

-Tá bonita a lua hoje, né?
-É, tá sim.
-Igual aquele dia...
-Qual deles?
-Todos eles.

E beijou-lhe os lábios, com aquele estalo no final que nem as décadas o ensinaram a evitar.


Acordou com o despertador. Seis e meia da manhã. O gosto do beijo ainda na boca. Sorriu ao molhar o rosto, olhando no espelho. Os cabelos ainda castanhos, as marcas do sorriso apenas começando a desenhar-lhe os sulcos no semblante de menino-moço, barba por fazer. A foto da garota no celular.

Seis e quarenta e cinco. Estava atrasado para a aula.