31 de ago. de 2012

Eu minto para mim mesmo ao acordar.
Sol e brisa se despedem.

Sou uma meretriz; uma rapariga; uma mulher-da-vida.
Sou uma puta.

Aliás, sou pior que isso, que me perdoem as putas.

Uma puta vende, entre gemidos, o corpo.
Eu vendo, calado, a mente,

Enquanto minh'alma agoniza, no cativeiro do corpo,
Fragmentos de sonhos,
Música e cor.

Vivo na lei alheia.
Desrespeitam minha forma, minha barba e meu cabelo.
O modo de me vestir.

Assim sigo, escravo de outrem,
Demoralizo-me.

Uma puta termina o dia com manchas de esperma, vinho, champanhe e cigarro.

Meu dia é um interminável branco, manchado de sangue, sofrimento e dor.
E até o cigarro que fumo é questionado.

Medicus quandoque sanat, saepe lenit et semper solatium est.

E a minha dor? Quem há de curar?

Lua e maresia me recebem.
E minto para mim mesmo ao dormir.
...Quando durmo.

(Agradecimentos especiais ao meu cigarro, à noite e às luzes da cidade, que nunca fecharam os ouvidos aos meus pensamentos e divagações.)