19 de dez. de 2011

Tomando nota:

"Aos olhos de um homem em crise
Toda geografia é o mesmo acidente"

"Paris-Texas"
de José Antônio Assunção

14 de dez. de 2011

Hoje o dia começou como se o governo tivesse aumentado o imposto sobre todas as coisas existentes e, então, a mãe do padeiro tivesse que voltar a morar com o filho, dono de si que sempre foi, motorista veterano de Harley Davidsons, ex-jogador de críquete, fumante inveterado e corno centenas de vezes, fã das músicas de Belle and Sebastian, sedento por milk-shake Ovomaltine de setecentos mililitros, cuja irmã fugiu de casa aos doze anos porque deu pro filho do vizinho e engravidou, deixando enfurecido seu pai, estivador aposentado, cheirava a peixe e fumo de rolo todos os trezentos e sessenta e cinco dias do ano, era secretamente bicha e trepava escondido da mulher com o administrador das docas, este por sua vez boêmio incontestável que adorava virar a noite e ver os primeiros raios de luz como se fosse a última vez que o sol fosse nascer.

Na verdade, hoje o dia começou como se fosse a última vez que o sol fosse nascer.

29 de nov. de 2011

Tomando nota:

O autor recomenda ouvir a seguinte música com a última postagem (clique no nome em negrito para ouvir):

Strizzalo
Autor: DeVotchKa
Album: A Mad And Faithful Telling (2008)
Minh'alma chora
Ao som do acordeão
Que geme palavras soltas
De um dialeto há muito esquecido

Minha pele arrepia
À batida do címbalo
Ao toque do violino
E ao arremate das tubas

Nem uma linha proferida
Mas tanto se diz nas entrelinhas
No compasso, no ritmo

A melodia encaixa
E a banda marcha
Em frente, sempre em frente

14 de nov. de 2011

Hoje agarro-me ao violão, querida
Que as suas curvas simulem as tuas
E cada nota, cada timbre
Seja um gemido teu,
O clímax, uma nova música, quem sabe
Seja uma noite de amor, cada melodia
Que o dedilhado o deixe mais solto,
Assim como acontece contigo
Que me engane o cheiro da madeira,
Seja teu perfume
E inebriado eu, durma feliz
Sonhando tua presença
Nos versos do meu cantar

23 de set. de 2011

E antes de ir embora, virou-se um instante,
Um breve momento,
Uma eternidade fugaz,
E me disse, com seriedade no olhar:

"Confia apenas em tu mesmo
Que és o único que nunca irá te deixar
Porque quando o mundo começar a desabar, amor,
Nem tua sombra será tua amiga"

13 de set. de 2011

Ah, coração louco!
Era eu ali, chorando rouco
Pelos cantos, apático
Ah, que patético, coração!
Há que ver, que mesmo sem sentido,
Sentido estava eu
A lamuriar meus dias,
Gastando minhas lágrimas
Em intermináveis rios turbulentos
Visando aplacar o alento

E, no afã
De livrar-me do tormento,
Esqueci-me das ensolaradas tardes
Sobre a relva
Nesta selva de pedra

Mas, antes que a raiva me contradiga,
Deixe que eu diga:
Não é ira o que vês, é falta;
São saudades tuas o que sinto;
Sou sincero, pois, não minto;
Não há o que preencha melhor
O vazio no peito cansado
De sofrer que tua voz,
Minha cara;
Que teu cheiro, essência fina;
Tua tez, tua pele
Que maciez!

Volta, então, coração!
Acende a chama
Volta, amor!
Meu corpo emana
Aura que só tu sabes controlar;
E, por mais que eu tente manchar
Tua imaculada carne,
Sei que etérea és,
Vens só à tarde
Nas ébrias nuvens do meu pensar;
Que desvario!, pode ser que digam
Mas, se de médico e louco
Cada um tem um pouco
Que mal há em chorar,
Mesmo rouco,
Se isso aplaca o sofrer?

És tu, linda flor
Rara orquídea;
Minha musa, meu ardor
Minha diva;
Menina-moça, mulher,
Fêmea doce, cativa
Do coração meu;
És tu que vem, altiva,
Meus sonhos enternecer

10 de set. de 2011

Tomando nota:

"And legs... I don't care if they're greek columns or secondhand Steinways. What's between 'em... passport to heaven. I need a drink."

"E pernas... Não me importa se elas são colunas gregas ou bengalas de segunda mão. O que há entre elas... passaporte para o céu. Preciso de uma bebida."

Al Pacino, como Frank Slade,
em Perfume de Mulher (Scent of a Woman, 1992)

25 de ago. de 2011

Não que eu não quisesse dizer adeus. É que fazia tempo que eu não me despedia de alguém. E dizer até-nunca-mais pra ele era como extirpar um pedaço de mim. Um pedaço bom e bem vivo dentro de mim. Acabou que ele tomou minhas mãos nas suas, beijou a minha bochecha de leve e murmurou um foi-bom-enquanto-durou. É, não tinha pensado nisso. Nem um pouco. E pensar que aprendi tantas coisas boas com ele. Fazer café, falar palavrão, fumar. Aprendi que era bom acordar e ficar deitada na cama um bocado até ter vontade mesmo, aquela coisa de dentro, de levantar. O ruim é que agora lembro dele cada vez que faço um bom café. Aprendi que café bom é café amargo, com pouco açúcar. Ele me ensinou a jogar cartas também. E a escutar rock pesado. E que às vezes é bom fazer amor e outras o bom é trepar, mesmo. Carne crua. Aprendi a comer com as mãos e a não dar a mínima pro que os outros pensam. Aprendi que beber até cair dá uma ressaca brutal no outro dia. Aprendi que é ótimo ficar na varanda só de calcinha, e melhor ainda quando ele me olhava. Aprendi a ser natural. Aprendi a ser gente. E a não ser também. Aprendi a escrever. Aprendi, a duras penas, que só porque você ama alguém não há garantia que os amigos ou parentes desse alguém te amem, sabe, no mesmo patamar. E que se fodam, os putos. Aprendi que homens cozinham bem melhor que mulheres, e que comer comida feita por eles é um baita tesão. Aprendi que menáge a trois é uma merda se você não é segura o bastante. Aprendi a confiar no meu taco, embora eu não tenha um. Aprendi a aceitar minha idade sem encanar. Aprendi a consertar pia, chuveiro e outras coisas mais. Aprendi a dirigir, digamos... bem. Aprendi, também, que é um saco dirigir cinco horas direto, e aprendi a dar valor a pessoas que viajam de longe só pra estar com outras. Aprendi a não dar valor ao tempo. Aprendi a respeitar os mais velhos. Cara, aprendi tanta coisa com ele que nem lembro de tudo. E acho que não ensinei tanto, em troca. O foda de tudo isso é que ele não me ensinou a dizer adeus. Não me ensinou a lidar com as lágrimas, quando elas rolam fácil. Não me ensinou que dor de cotovelo existe mesmo, e dói pra cacete. Enfim, aprendi tudo isso à força. E que nenhum amor, paixão, tesão, ou seja lá o que você quiser chamar, por mais forte que pareça, dura pra sempre. E aí que eu vi o quão importante, na verdade, foi aquela festa dos meus pais, há alguns anos. Bodas de prata. É tempo pra burro pra se estar junto. E é preciso muito amor, tesão, paixão, força de vontade, inteligência, resiliência, paciência e todos os outros adjetivos que eu ainda não aprendi, pra dar certo. Enfim, preciso ir. O café tá esfriando e tá tocando rock pesado na tevê.

15 de ago. de 2011

Tomando nota:

"O que importa é o que te quebra em duas cidades"

7 de ago. de 2011

E, cada vez que a distância,
Por capricho,
Decidir nos separar,
Lembrarei dos teus olhos de coelha,
Pelos quais aprendi a ver o mundo

Não como ele é,
Mas como tu vês em sonhos,
Que é de que te alimentas
E abres um lindo sorriso

Que é de que eu me alimento.

17 de mai. de 2011

Eu queria, sabe amor
Que as pessoas me entendessem
Como me entendem as cordas de meu violão
Vibram em consonância com minha voz
Que não é lá essas coisas

Eu queria sim
Que me entendesse o mundo
Como me entende a noite
Que cala comigo
E não engole, com sua escuridão
A brasa de meu cigarro

Eu queria, ah como queria...
Que me entendessem os dias
Como tu me entendes
Fazes parar o tempo quando quero
Olhar mais uma vez o teu semblante
Antes de partir

Eu queria, amor
Que me entendesse o coração
Como me entende o corpo
Que está comigo, e não distante
E comigo é todo, e não vazio

Pois esse coração é arredio
Só quer viver com a sua dona
Que também é minha

Mia bella donna.

8 de abr. de 2011

Tomando nota:

"She's the gravity my life circles around"

Artista: The Whitest Boy Alive
Faixa: Gravity
Álbum: Rules (2009)

30 de mar. de 2011

O que é o tempo, minha cara?
Será ele essa entidade indestrutível
Inabalável poder
Que une e separa, que constrói e destrói?
Ou será o tempo apenas remédio
Para as dores mais profundas;
Que fará o tempo com a minha dor
Ela, que perpassa a carne?

Que distância é essa, querida
Que mutila os apaixonados,
Mas dá força aos que escrevem,
Que adentram as noites, que se perdem
Em devaneios oníricos, para acalentar
O frio que nem o mais quente dos sóis
Pode apaziguar?

Que hora é essa, reflexo de mim?
Olho pela janela aberta e vejo a cidade gritando
Mas nada ouço;
Que hora é essa, alma gêmea?
Teu lugar está guardado à cama
Ainda têm teu cheiro os lençóis
Que não esqueçam de nós, as madrugadas
Que não fique muda a voz, que me chama:

"Vem... Faz frio aqui, sem você."

22 de mar. de 2011

Tomando nota:

"Quem tem saudade não está sozinho
Tem o carinho da recordação
Por isso quando estou mais isolado
Estou bem acompanhado com você no coração

Um sorriso,
Um abraço e uma flor
Tudo é você na imaginaçao
Serpentina ou confete, caranaval de amor
Tudo é você no coração
Você existe como um anjo de bondade
E me acompanha nesse frevo de saudade."

Frevo de Saudade (por Nelson Ferreira)

Querida,
Que mulher a tua mãe
Fez-te bela, pura candura
Esculpiu esse teu corpo
Que deste mundo nao é

Querida,
Quando vier me ver
Despe-te devagar
Masturba o meu cérebro
Que é de carícias cansado

Mas, querida,
Quando quiseres me deixar
Me escreva
Mas passe a carta por baixo da porta
Porque quando vim ao mundo nada trouxe
Neste mundo nada fui
E, quando partir
Dele nada quero levar

Só o registro das tuas curvas no cume dos meus dedos
Só a lembrança da tua, na ponta da minha língua
E o pouco, quase nada, do amor por ti, no fundo da minh'alma

Há de constar, Cristina, na minha lápide
O seguinte epitáfio:

"Aqui jaz T.
Nem pai, nem filho, nem espírito
Apenas um coração cansado de viver."
Acordo de supetão
Arfo
Penso que te ouvi chorar
Estás a olhar a lua, meu amor
Te acaricio
Só o brilho dos teus olhos negros me responde
Grande a lua hoje, meu amor
Só nossa, a lua
Sinto minhas entranhas agitarem
Só o sopro do vento me responde
Te abraço por trás
Sinto tua pele, teus pêlos
Sinto teu frio, teu arrepio
Sinto teu coração de loba a pulsar
E essa lua gigante com ele a pulsar

Some feito morcego na noite escura teu uivo
Travestido de choro

Somos dois lobos no frio branco-gélido da Sibéria
E eu não me lembro da última vez que fomos gente.

12 de fev. de 2011

Ah!
Me segue teu cheiro
É ave de rapina, desejo certeiro
Olhos que brilham
Fazem mira em meu coração

Que, por ti, clama

Ah!
E como sei!
Sou incauto em tua presença
Rato agora, que fujo,
Mas homem de nascença

Que, por ti, chora

Ah!, amor
Deixo meu coração,
Contanto que o sigas
Vou-me embora, pois,
Segue minha vida

Que, por ti, queima

Ah!, querida
E, antes que a chama,
Por tua falta, se apague
Vem e queima comigo,

Que, por ti, vivo

Ah!, tenha certeza
Que a existência que conheces
Se acaba antes,
Pois esta voz, a distância
Não cala...

Porque
Clamo, queimo e choro,
Mas, por ti, vivo.