16 de dez. de 2009

Tomando nota:

"Traduzir uma parte noutra parte
Que é uma questão de vida ou morte"

Traduzir-se, de Ferreira Gullar

15 de dez. de 2009

Engraçado como são as mulheres...

Foi posto à apreciação do espírito dessa nobre dama inglesa a seguinte escolha: reencarnar para viver outra vida de luxúria entre os humanos ou subir aos céus com uma assinatura eterna de todas as revistas de moda-fofoca e uma caixa com as mais modernas linhas de maquiagem com anti-aging.


Só depois de muito ler sentada num pufe de nuvem foi que ela percebeu que a maquiagem não fazia o efeito esperado.

11 de dez. de 2009

... Entretanto, temei:

Atalhos são sempre mais perigosos
(Especialmente com tantas curvas).

8 de dez. de 2009

A mulher é o atalho de um homem para a felicidade...

27 de nov. de 2009

Engraçado como são os homens.

Esse lorde inglês do século quinze reencarnou no corpo de um jovem brasileiro que caiu da laje na favela do Alemão, no Rio. Seu espírito ao voltar recebeu de um anjo duas propostas para quando reencarnasse: de um lado, uma vida de paz e um dinheiro considerável para sair da miséria daqueles que vivem abaixo da linha da pobreza; do outro, uma bela mulata de coxas incrivelmente grossas e uma garrafa de cachaça de engenho.

O espírito do lorde com aquele olhar altivo, ponderou bem a escolha que ia fazer e começou a caminhar para o lado que ostentava a vida de paz e tranquilidade. Quando chegou perto o bastante, virou e mostrou um sorrisinho sarcástico antes de falar:

- Ah, what the hell!

E desceu com a mulata e o litro barato de cachaça.

3 de nov. de 2009

Tomando nota:

"Angel Cassiel (Andre Braugher):
-If you'd known this was going to happen... would you still have done it?

Seth (Nicolas Cage) - with watery eyes and a thoughtful look on the face:
-I would rather have had... one breath of her hair... one kiss of her mouth... one touch of her hand... than an eternity without it. One."

City Of Angels (1998)

*Post scriptum: tinha esquecido que tocava "Iris", da banda Goo Goo Dolls, nesse filme. Ótima música. Ótimo filme.

1 de nov. de 2009

Às vezes eu me sinto como se estivesse jogando roleta russa sem o revólver, numa espécie de brincadeira bizarra onde eu sempre perco e nunca morro. Já espalhei meus miolos dezenas de vezes na parede e, por mais incrível que possa parecer, tu ainda não sabes ler minha mente. Meu sangue nunca foi azul, eu sou tão poluído por dentro quanto a maioria dos bípedes pensantes que caminham sobre a terra. Mas não reclames tanto. Ao menos ele combina com o vermelho do teu batom.

17 de out. de 2009

De olhos fechados, naquele curto espaço de tempo que precede o beijo, naqueles ínfimos milésimos de segundo em que um consegue ver a alma do outro, mesmo através das pálpebras, é que se esconde a essência desse sentimento tão complicado que convencionaram chamar de amor.
Tomando nota:

"You're the target
That I'm aiming at"

Coldplay - The Message

5 de out. de 2009

Tem dias que são foda
De tão bons parecem um filme
Daqueles que você assiste até os créditos
E ainda assim
Quer fugir do lanterninha
Pra voltar pra sala e assistir de novo
Até decorar cada momento
E os guardar na mente


Pra sempre.

29 de set. de 2009

A maioria das mulheres não sabe que um gemido é mais afrodisíaco que catuaba e amendoim juntos. Pensou nisso enquanto comia a transtornada do quinto andar. Ela era o subtipo de mulher que os Homo sapiens sapiens do sexo masculino mais odeiam. Mulher-múmia. Abriu as pernas feito um compasso, foi logo puxando um cigarro da gaveta, ela parecia longe dela mesma enquanto ele metia. Se tivesse um pouco mais bêbado não ia saber se tava fodendo uma mulher ou uma boneca inflável. Geme, cadela. Pensou consigo mesmo que tinha muita mulher que não gemia pra não parecer puta. Estereótipo fudido. Não era o caso da drogada do quinhentos e três. Aquela era puta mesmo. Puta múmia ou múmia puta, não soube definir. Esporrou em cima dela e só percebeu que ela não tinha morrido porque saiu um suspiro disforme de lá. Pra onde cê vai? Compra cigarro. Riu. Anorética esquizofrênica do cacete. Tentou imaginar o oposto. Lembrou do filme pornô que assistiu em casa. A moça aguentava uma coca de litro com folga e ainda se dava ao trabalho de fingir um gemido. Não era nisso que tava pensando. Não precisava ser ambulância. Porra. O homem tem cinco sentidos. Só se esfrega a lâmpada pra ver o gênio. Dá um daquele ali. Não, do vermelho, senão ela chia. Voltou e a coisa ainda tava estendida na cama, mesma posição, o cigarro quase no filtro, a inconfundível cara de bunda. Aliás, aquilo era bom, pelo menos ela tinha uma bunda em algum lugar do corpo. Comprou? Tem cerveja aí? Ela podia gemer, a vaca esquelética. Ou falar uma sacanagem qualquer no ouvido. Passar a mão nas bolas. Arranhar as costas. Qualquer coisa, até queimar com o resto do cigarro. Menos aquela morgação de zero a zero em final de campeonato. Pensou que ia ter que imaginar a boca da Angelina Jolie
num boquete frenético pra ficar duro de novo. Ligou a tevê no canal pornô e procurou a moça com o litro de coca pra balancear o silêncio do quarto. Nem catuaba com amendoim ia fazer efeito ali.

21 de set. de 2009

A neblina nem tinha assentado ainda quando eu saí. As pupilas boiando na piscina dos olhos. O que fazer quando se esquece o caminho de volta? Quando a placa de vire à esquerda na verdade te presenteia uma curva fechada à direita? Você capota e come terra. O que fazer quando as pedras que rolaram do terremoto da véspera te soterram? Você vira bosta. Você está sozinho no meio da pista, zumbido filha da puta no ouvido, tua perna esquerna esmagada. Tudo que você consegue ouvir é uma voz fraca vindo do som do carro destruído no acostamento. Maria Rita canta que o amor só é bom quando é pra dois, eterno, antes e depois, competindo com o chiado das tuas vísceras fritando no asfalto quente. Meu samba vai curar teu abandono, ela diz. Não quer ver você tão triste. Vai curar a dor que existe. Teus intestinos respondem no chiado. Aí você lembra da dor. Manca mais uns duzentos metros no acostamento, deixando pra trás migalhas da tua alma. Você não chora. Você é forte. Levanta a face, enxerga o recortado das montanhas no horizonte. Parece uma mulher deitada. Rosa, ah menina Rosa, vem que eu quero ver você sambar. Me disseram que você samba demais, Rosa. Que mal há em sambar? Meu samba tem mistério, mas é gostoso de sambar. Então a vista escurece um pouco mais e você torna. Porra, o carro é um monte de ferro retorcido. Não, eu sou forte. Mas não tem como eu ter saído inteiro dessa merda. O samba meio que brotando da lata de sardinha que o carro virou. Você cansa, os músculos ardem. Teus pedaços estão espalhados no chão. Não há mais migalhas de tua alma pra te manter vivo. É aí que você chora. Sozinho, nu no escuro, sangra profusamente por buracos que você nao consegue enxergar. Tua cara no chão, coração batendo no ritmo do teu lado só pra te lembrar que você ainda tá vivo. Que aquela porra tá doendo de verdade, e que não vai passar tão cedo. É quando você fica puto. Levanta. É a tua voz te chamando. Você tá uma merda, sabia? Aí você pega o teu coração e põe numa porra de um saquinho pra vômito. As pessoas se assustam quando vêem aquele monte de entulho sendo conduzido por um cara magro, feio e coberto de sangue, carregando o coração num saco. Um posto. Pede um litro de cachaça. Três goles e metade da garrafa se foi. Lava a alma com o resto da cachaça ou a cachaça com o resto de alma? Não sei. Você ri. O sangue coagulado entremeado nos dentes. O dono da loja de conveniência ri. Que porra. Quer o quê mais filho? Manda esse coração pra dona dele. Não serve em mim. Bate forte demais. Você acorda. Porra de sono. O cheiro das paredes do hospital banhadas com desinfetante. Moço, moço, pra que lado é a ala de pediatria? Você estende o braço e abre a boca, mas não tem voz nos teus pulmões. Aliás, você não tem pulmões. Moço?! Teus pedaços ainda estão espalhados no chão... Ah, mal educado do caralho! Deixa a pessoa falando sozinha! ...Mas só você vê.

13 de set. de 2009

Tomando nota:

"O homem que nunca conheceu a dor não saberá reconhecer a felicidade."
Algum daqueles filósofos das antigas.

11 de set. de 2009

O metal frio deslocou o ar antes de deslizar rápido em sua garganta e, logo, o único ruído audível era o gorgolejo do sangue fluindo quente pelo corte perfeito. E enquanto observava a criatura na agonia da morte iminente, ajoelhada com as duas mãos no pescoço, não conseguiu conter as lágrimas. Entretanto, seu semblante continuou sério e nenhum músculo sequer tremeu em sua face. Puxou um lenço do bolso esquerdo e enxugou a lâmina e os olhos.

-Morre, filho de uma puta. Padece sem emitir desculpas.

Sirenes. Surgiu um sorriso no canto da boca. Virou-se, encarou as luzes, deitou no chão e postou os braços às costas, como que a ofertá-los às algemas. E sem se mover, completou:

-Adeus, pai.

Então, as sirenes calaram. O vento calou. O próprio tempo parecia ter parado. Seguiu-se um grunhido alto e disforme. A última gota de sangue do desafortunado havia manchado o asfalto.

9 de set. de 2009

-Tens fogo? Empresta um pouco. Acende este cachimbo, que eu quero queimar esses segundos amargos, encher um pouco com fumaça esta minha cabeça vazia. Tens tempo? Empresta um pouco. Compartilha esses segundos amargos comigo, enquanto a fumaça nos embriaga. Vem ser vazio comigo. Então serei apenas metade do vazio. A outra metade, fumaça. E talvez essa fumaça seja mais doce que o amargo desses segundos. E talvez eu seja menos vazio que essa conversa. Mas, incoerentemente, é o vazio da conversa que me completa. Então sigamos eu, você, a doce fumaça, o vazio e os segundos amargos.

-Que porra é essa que tu tá fumando?!

8 de set. de 2009

Quê? Não começe. Eu sei, sei que fiz tudo errado. Sei que te maltratei. Te fiz minha demais. Tudo ao meu jeito. Quando e como quis. Agora é tarde, Inês é morta. Não vais me convencer com essa chantagem emocional. Passei três dias a imaginar-te em minha mente e, agora que a tenho aqui comigo, nada que disseres vai mudar o que eu fiz. Nem uma palavra que seja da tua boca tão perfeita vai mudar quem eu sou, e por conseguinte, quem és. E não me olhes assim, com esses olhos tão meus. Eu fi-los ontem ainda, por último, com tanto esmero, dedos trêmulos, óleo sobre tela. Tuas pupilas negras e profundas. Sinto muito. O escarlate de tuas lágrimas de sangue ainda não teve tempo de secar. Agora dorme. Pela manhã minhas mãos hão de curar teu sofrimento.

12 de ago. de 2009

Vem, amor
E traz todas as tuas cores
Que eu quero pintar o sete contigo.

11 de ago. de 2009

Era uma vez um garoto que fez na árvore mais bonita que encontrou, com o canivete que ganhou do pai aos sete, um coração com a sua inicial e a dela. No outro dia, chegou lá e outra lâmina havia desfeito sua paixão na madeira. Havia um "eu não te amo" que, mesmo devido à dificultosa caligrafia à faca, notava-se ser de letra feminina. Repetiu seu amor em outra árvore e, quando chegou lá no outro dia, a mesma coisa. Hoje há, às margens daquela cidade, um bosque inteiro em que se vê, nas suas árvores, o seguinte símbolo:

6 de ago. de 2009

...E para aqueles
Que sem cerimônia
Derramarem o fel
De suas vis cavidades orais
Cortar-lhes-ei a viborosa língua
E sua toxina me fortalecerá

Porque eu sou mulato da cor do pecado
E nem o pecado do mais terrível veneno
Me aflige; nasci vacinado
Contra a ruína das cobras

Principalmente da cobra-homem

5 de ago. de 2009

Eu me viro do avesso
Pra te achar
Nas minhas entranhas
Feito bicho, parasita

E ofereço de bom grado
Minha carne
Meu sangue
Meu amor

Só pra te ver crescer
Dentro de mim

27 de jul. de 2009

Porque os braços têm memória
E à lembrança do abraço
É que eles descansam à noite

Porque os olhos,
Eles também têm memória
E à lembrança da beleza
É que deitam as pálpebras
À noite

Porque a pele tem memória
É pela lembrança do toque
Que, à noite,
Se cansa do arrepio

Porque o peito tem memória
Mas à lembrança do amor
Não dorme, à noite
Pulsa, apenas


A duras penas, pulsa

13 de jul. de 2009

Tomando nota:

"We know our love is crazy
It's what we do it for
I know your love is crazy
Know where you get it from

Crazy is beautiful"

The Derek Trucks Band - Our Love

1 de jul. de 2009

Tomando nota:

"Já que não tem peito de peru...
...serve os daquela morena mesmo."
Tulípio

1 de jun. de 2009

Franziu o cenho, sisudo, a pele do rosto enrugada. Cruzou as mãos por sobre a bengala, o olhar fixo no céu escuro da noite, apenas o claro da lua reluzindo em seus olhos. Um blues clássico tocando no som em cima de uma cadeira plástica ao seu lado. Os sulcos nos cantos da boca denunciavam risadas antigas, as rugas nos lábios de quem se divertia assoviando ao ritmo da música. Recostou-se na pilastra do alpendre, atento agora ao ponto próximo ao coqueiro. As memórias fervilhando na mente, reflexos de outras primaveras, resquícios de sua mocidade. Viu a si mesmo, anos mais novo, recostado ao coqueiro. E como se apertasse um botão, acelerou-se o tempo. Estava ali ele, abraçado a uma garota. Observou-a deslizar a mão por sobre sua cabeça, viu a própria cara de satisfação. Chegou até a sentir a mão em seus cabelos cor de prata. As costas curvadas pelo peso dos anos. Aí percebeu ela ali ao seu lado. O mesmo sorriso. Os mesmos olhos agudos observando-o mergulhar nas lembranças. Abraçou-o por trás, beijou-lhe as costas e, devagar, respeitando as juntas calejadas, sentaram ao lado da mesinha na varanda. Uma só silhueta sob a lâmpada.

-Tá bonita a lua hoje, né?
-É, tá sim.
-Igual aquele dia...
-Qual deles?
-Todos eles.

E beijou-lhe os lábios, com aquele estalo no final que nem as décadas o ensinaram a evitar.


Acordou com o despertador. Seis e meia da manhã. O gosto do beijo ainda na boca. Sorriu ao molhar o rosto, olhando no espelho. Os cabelos ainda castanhos, as marcas do sorriso apenas começando a desenhar-lhe os sulcos no semblante de menino-moço, barba por fazer. A foto da garota no celular.

Seis e quarenta e cinco. Estava atrasado para a aula.

22 de mai. de 2009

Tomando nota:

"Meus olhos de raio x
Cegaram de medo
Pois tua alma é de chumbo e segredo."

Lenine - O Homem dos Olhos de Raio X

12 de mai. de 2009

Há momentos em que a ponta do lápis quebra e não há apontador por perto.

7 de mai. de 2009

-Lembras quando me abraçaste forte, quando me beijaste o pescoço, dizendo que meu cheiro era inconfundível, alisando meu cabelo? Lembras quando me trouxeste flores e chocolates, e aquele cartão, oh, deus, lembra daquele cartão? Lembras quando me levantaste nos ombros e saímos gritando a plenos pulmões a felicadade dentro da gente, quando sentamos na grama a olhar a beleza das estrelas, quando disseste que não querias mais nada da vida? Lembras quando desenhaste teu coração para mim, quando beijaste minha nuca? Lembras de quando cozinhaste para mim? Lembras da massagem que fizeste nas minhas costas, teu poema, lembras quando dançamos até ficarmos exaustos e minhas pernas doeram todo o final de semana? Lembras da roupa que usei, e mais que isso, lembras quando tiraste minha roupa, quando arrancaste minha calcinha com os dentes? Lembras de quando deitaste teu corpo no meu e disseste que eu era tua, tua pele e a minha num só tegumento? Lembras de como te abracei, forte, de quando deitaste no meu colo, de quando deitei meu corpo no teu, disse que eras meu, minha saliva na tua? De quando te puxei forte para mim, quando te guardei entre as minhas pernas, de quando descansaste no meu seio? Lembras de quando nos despedimos? Lembras de quando desejei que ficasses comigo, desejando que quisesses o mesmo? Lembras de quando escreveste para mim, dizendo que querias estar comigo, perguntando se eu queria o mesmo?
-Mas isso tudo foi ontem.
-Pois é. O tempo passa tão rápido, não é? Lembras de quando começamos a namorar?

3 de mai. de 2009

Amor, levei metade do teu coração comigo, tá? O meu disse que sem o teu não se faria inteiro. Pediu-me, então, para escrever um recado. Não sabia, pois, escrever, com aquele vocabulário dissilábico. Mas não te preocupes, deixei metade do meu por aí. Espero que te sirva bem.

"Tum-tá, tum-tá", foi o que ele me disse. Aliás, é o que vive repetindo. Demorei a entender.

"Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?"

Eduardo e Mônica (Renato Russo)

28 de abr. de 2009

Felicidade é se sentir indispensável para alguém.

15 de abr. de 2009

Por quê, eu me pergunto,

Por que o caminho de volta ainda é mais longo?
Por que, a cada passo à frente,
Mais do meu coração fica para trás?

Por que faço perguntas cujas respostas estão tão claras para mim quanto esta manhã de quarta-feira?

12 de abr. de 2009

Tomando nota:

"I left my lady in the launderette
You can put some money on it, you can place a little bet
That when I see my lady
The black will be white and the white will be black
But the blues are still blue"

Belle And Sebastian - The Blues Are Still Blue

6 de abr. de 2009

Eu mal tinha me recuperado das dores da noite anterior. Pra ser bem sincero, eu já tinha quebrado todos os conceitos que eu conhecia de dor. O que eu sentia, em verdade, era uma dormência esquisita. Um dia inteiro com aquela porra de coturno e você esquece que tem dedos.
Olhei pro lado, ainda ardia a derradeira brasa na fogueira. Vermelho-vivo contra o escuro da noite. Era até bonito. Terminei de acordar com os gritos do oficial ao ouvido. Levantem, ratos, ele dizia. Não sabia que ratos usavam capacete, ou montavam fuzis, ou faziam turnos de vigia à noite, limpando o sangue da baioneta. O colega do lado murmurava sempre a mesma coisa, vá à merda, vá à merda, filho da puta. Levantem, ratos, o inimigo não dorme! Eu ria daquilo. Não sei se eu ria porque eu acreditava que já tinha atingido o fundo do poço, afinal o inferno não podia ser tão diferente daquilo, ou pra disfarçar a vontade de chorar. Aquilo era foda. Me imaginava todo dia desertando. O pelotão de fuzilamento. Meu corpo no muro, seria rápido. Mas eu carregava uma foto dos meus pais e irmão, outra da minha mulher, eu sentia mais vergonha que coragem de admitir que eu não agüentava mais. Eu não agüento mais, meu corpo gritava. Dizem que a Lei de Murphy é infalível: pra completar, começou a chover. Levantem, ratos! Chegou a hora! O que se seguia me lembrava filme de terror, centenas de mortos-vivos saindo dos buracos. Era aquilo que éramos, mortos-vivos. Levantem, ratos! O grito do oficial ribombava nos quatro cantos da minha cabeça. Cada pedaço que eu ainda sentia do meu corpo desejava que aquilo acabasse. Talvez eu tenha sido atendido. Eu e mais dois colegas de divisão fomos premiados com um morteiro. Consegui abrir os olhos ainda, pra ver o desespero geral, adolescentes, padeiros, comerciantes, desempregados, garçons, mecânicos, vigias, fotógrafos, escritores, cantores, motoristas, pedreiros, bêbados, fumantes, salafrários, golpistas, cozinheiros, eu via tudo, menos soldados, correndo tentando salvar a própria pele. Consegui abrir os olhos ainda, pra ver a brasa ao meu lado, ainda vermelha, como o sangue que eu via em todo canto. Era eu que apagava. Vamos, vermes! Avante! Ainda ouvia os gritos do oficial, mas eu tava apagando, a brasa ali ainda acesa. Tudo ficou borrado. Eu não via mais nada, pelo menos também não ouvia o filho da puta gritando, pelo menos não sentia mais dor. Morri aos vinte e três anos, nem cheguei a conhecer o filho que deixei no ventre da minha mulher. Não voltei a ver meus pais nem meu irmão. Ironicamente, recebi uma condecoração póstuma. Fui considerado herói de guerra, pela bravura concedida em favor da pátria, sem nunca ter sequer disparado o rifle que eu carregava. Meu nome gravado em uma pedra, talvez escrito menor que naquelas letrinhas miúdas de contrato. Pra desespero da minha mãe, não encontraram todos os pedaços do quebra-cabeça. Preferiram improvisar na lápide. Aqui jaz a lembrança de um rebento querido e amado esposo. Lembrei daquele pedaço de carvão naquele dia de chuva, lutando, como eu, para manter-se aceso.

29 de mar. de 2009

Porque nunca vai existir recompensa maior que um sorriso sincero.

--

-Que estranho, parece que a gente se conhece há tanto tempo, né?
-É, é sim...

28 de mar. de 2009

"A rapadura é doce, mas não é mole, não."

Ditado popular.

26 de mar. de 2009

Deixa eu ficar aqui, meu bem, aqui, agora, presente, hoje, deixa eu ficar onde eu posso te segurar num abraço e beijar-te a boca, deixa eu ficar aqui, nesse instante, onde eu posso olhar nos teus olhos quando vou dizer que te amo, deixa eu ficar aqui, deixa, onde para a felicidade não há como nem porquê, deixa eu ficar aqui, meu amor, ainda há tempo, sempre vai haver, deixa eu ficar aqui, aqui contigo, deixa, o que tiver de ser, será, tenho riso, sim, de orelha a orelha, mas tenho também lágrimas, dúvidas, incertezas, sou gente, de carne, osso e medo, portanto fica aqui, comigo, agora, aqui, presente, aqui, hoje, mas, quando voares, quando buscares o amanhã, leva-me, contigo, onde fores, no teu coração: não há limites, pois, para tuas asas, muito menos para o meu amor.

23 de mar. de 2009

-Existe uma anos-luzmétrica distância entre o querer e o poder, meu filho.
-Ok. Vou preparar meu foguete.

22 de mar. de 2009

Ano é o período de tempo correspondente à revolução da Terra em torno do Sol, que equivale a 365 dias, 6 horas, 13 minutos e 53 segundos. N(amor)o é toda e qualquer circunstância em que o universo inteiro em volta importa menos que o abraço. Érica é um nome próprio de origem norueguesa e que significa 'sempre poderosa'; indica uma pessoa perseverante, que realmente se dedica ao que faz, tímida por fora, mas que, no íntimo, se orgulha dos seus inúmeros talentos e de sua romântica sensualidade.

Agora imagine 365 dias, 6 horas, 13 minutos e 53 segundos em que abraçar uma pessoa (perseverante, que realmente se dedica ao que faz, tímida por fora, mas que, no íntimo, se orgulha dos seus inúmeros talentos e de sua romântica sensualidade) importou mais que o universo inteiro em volta. Multiplique isso por todos os dias, horas, minutos e segundos em que não se pôde abraçar essa pessoa. Esqueça o resto do universo com certa frequência. Misture com saudade, carinho, ternura e tolerância.

Agora falta pouco. Tenha um pouco de sorte, saiba desenhar razoavelmente, goste de música e chocolate, comece a escrever, diga "Eu te amo" sempre que puder (de preferência baixinho, no ouvido), saiba fazer uma boa massagem, torça pelo Campinense, mime com presentes de vez em quando/sempre, assovie com perfeição, goste de viajar (de preferência de madrugada), entre outros atributos diversos.

Pra completar, conheça uma pessoa que reúna as características embutidas no nome Érica, que aprecie todas as suas qualidades e entenda seus defeitos, que saiba dialogar (e brigar, quando preciso), que encante com seu jeito de ser, que receba com um sorriso cada gesto, por menor que seja, que se deslumbre com presentes (e, às vezes, com a falta deles), que abrace como se fosse a última vez e beije sempre como a primeira, que diga "Eu te amo" de uma forma que as palavras o façam se sentir amado.

Adicione Dias e Oliveira a Érica, junte tudo e tenha a convicção de que não há felicidade igual.



Pronto.
Você acaba de entender o que um ano de namoro com Érica Dias Oliveira significa para mim.

Feliz 1º aniversário de n(amor)o, branquinha.

21 de mar. de 2009

Perguntado pela repórter, microfone empunhado feito espada, sobre o que queria ser quando crescesse, o garoto enxotou o cão de perto dos sacos de lixo, deu uma senhora dentada no pão visivelmente embolorado e disse sorrindo, como se segurasse um belo sanduíche de presunto à la Chaves da essebetê:

-Quero ser gente.

15 de mar. de 2009

-Eu ia pedir pra você vir com aquela calcinha azul, aquela da primeira vez que a gente foi pra cama...

Pirava de vê-la daquele jeito, só de calcinha.
Só de calcinha, repetia pra si mesmo, enquanto tirava-lhe a roupa.

Fazia isso sempre devagar. Pedia que virasse de bruços.
Aliás, pirava de apertar-lhe a bunda também. Bunda gostosa do caralho, era quase um mantra. Ecoava na cabeça, enquanto descia a mão no escorrego das costas e então apertava forte nas nádegas.

Tirava primeiro a blusa.
Era quase um cego. As mãos liam o braille da pele.
Começava na nuca, pousava a cabeça dela nas mãos para beijá-la. A língua então ia na orelha, a mão já descendo no pescoço.
Puxava-a pra perto. Lambia-lhe os mamilos. Detia-se nos seios. As mãos seguravam forte nos quadris.
Beijava-lhe o colo e então descia, lambia o corpo até o umbigo.

-Eu coloquei uma melhor.
-Foi? Mostra.

Beijava a barriga enquanto desabotoava a calça e abria o zíper. Beijava as coxas, a virilha, mas gostava de observar seu corpo, assim, só de calcinha.

-É verdade, essa é bem melhor mesmo. Gostei.

Em verdade, pirava mesmo de vê-la nua.
O fato de que ela se entregava daquele jeito excitava-o tanto que preferia postergar ao máximo o momento em que a iria penetrar. O momento em que iria desviar a atenção de seu corpo.
Então fazia carinhos, lambia-lhe o sexo por sobre a calcinha. Friccionava o cacete en garde sobre o clitóris.

Quando tirava a calcinha, lambia cada centímetro de pele, cada reentrância. Refazia o caminho de volta até o pescoço. E levantava. O momento em que iria desviar a atenção de seu corpo.
Nesse ponto olhava-a na face. Beijava-lhe os lábios e o pescoço enquanto concentrava-se no movimento. Não queria nem gostava de desapontá-la.

-Vem.

Não gostava quando acontecia rápido demais. Quando não conseguia segurar-se.
Penitenciava-se.

Preferia se cansar. Sentir seu suor misturando-se com o dela. Ouvir o gemido baixo.
Às vezes, não ouvir gemido. Sentir apenas o movimento de seu quadril, pedindo mais.
As unhas cravando nas costas. Aquilo também o excitava.
Pirava com a forma com que ela puxava-o com as mãos, ajudando-o a penetrar. Com tudo aquilo.

Em verdade, mesmo, pirava com ela.

-Foi ótimo.

Sabia que não. Tinha sido muito rápido dessa vez.
Mas viu o sorriso em seu rosto. Viu o jeito como ofereceu a língua ao beijo. É, tinha sido ótimo mesmo. Machismo idiota de relacionar prazer com resultado.

Pra ela importava o caminho. As mãos e os lábios na pele. A intenção por trás do sexo.
Pirava naquela garota.

-É, foi sim.

Ela sorria enquanto arrumava o cabelo em frente ao espelho, só de calcinha. A calcinha que tinha escolhido para aquele dia.
Sorriu também. Abraçou-a por trás, beijando-lhe as costas.

-E essa é bem melhor mesmo. Gostei.

Pirava de vê-la daquele jeito, só de calcinha.

10 de mar. de 2009

Tomando nota:

"-Ah, esses teus olhos cor de mel...
-E desde quando mel é verde?
-Quer trepar?
-Quero."

De: Café com Cigarros

9 de mar. de 2009

Abraçou-a forte e olhou fundo em seus olhos castanho-escuros, torcendo para que conseguisse se enxergar dentro dela.

-Isso só acontece uma vez na vida, sabia?
-O quê?
-Isso aqui...

Viu a si mesmo, o reflexo de sua vida brilhando naquelas pupilas negras, naquele rosto feminino emoldurado em um sorriso. Pensou no que havia dito um dia antes: tem momentos que a gente podia simplesmente pausar, né... viver pra sempre nele? A verdade daquela frase tornou-se tão evidente, os dois ali abraçados. Ele olhando fundo nos olhos dela enquanto falava. Pensou naquilo enquanto gravava o momento, uma lágrima insistindo em brotar de seus olhos. Poderia vivê-lo de novo, sempre, quando quisesse.

-...esse sentimento.

E como lesse sua mente, ela enxugou seus olhos com o dedo, pôs a mão em seu rosto. Ainda o mesmo sorriso bonito a adornar a face. Os lábios abriram, deixando passar a voz mansa, quase um balbucio:

-É verdade. A gente tem que aproveitar né? - passou os braços em seus ombros e beijou sua boca. Fecharam-se os olhos.

O tempo parou. Ainda estão lá: abraçados, de olhos fechados, enquanto ele dorme, enquanto come, enquanto escova os dentes, enquanto assovia, enquanto lê.

Enquanto escreve.

8 de mar. de 2009

Sangra calado, metade sórdida de mim!

Costumas ocluir minha boca com teu silêncio
Quando me vês sangrar

(Breve) o meu e o teu desejo serão um só

Antes disso hei de ver teu sangue me dar força
Teu grito de dor há de se somar ao meu
Porque agora tenho a chave dos meus grilhões
És tu que sentes o açoite na derme, não eu

Escreverei meu nome com teu sangue
No avesso de mim (que és tu)
Pra me (te) lembrar que a dor do chicote na pele
É infinitamente menor que a dor do silêncio na alma

Esquecer-te-ei, então
Nos porões do meu ser
Tua voz inaudível
(Como outrora foi a minha)

Sofre calado, escória!
Tua lágrima é a minha
E estou farto de me ouvir chorar.

5 de mar. de 2009

Fazia algum tempo que não a via com aquela cara. Tinha 'sexo' estampado em seu corpo. Gata no cio a me devorar com aqueles olhos de fogo. Me empurrou na cama. Mergulhei minha língua em sua boca. Meu corpo sobre o seu. As unhas rasgaram a carne. Senti suas pernas cruzando atrás de mim. E a voz mezzo sussurro, mezzo gemido, ecoando em meu ouvido, baixinho. Tá, agora pára um pouco de me beijar e penetra, vai... Naquele momento eu me senti como da primeira vez em que a encontrei daquele jeito, felina. Dois bichos. Dois pedaços de brasa, soltando faísca no atrito. Duas vezes em que alguns minutos valeram por horas. Circunstâncias em que cada célula do meu corpo gritou silenciosamente por mais.

Mais dela, mais de mim. Dane-se o resto.
Pena que o que é bom dura pouco.
Tomando nota:

"-Tenho um coração de pedra - Ela se defendeu.
-Tenho uma dinamite de carne bem aqui - Ele atacou.
Explosões foram ouvidas à distância."

De: Casa de Paragens

3 de mar. de 2009

Tomando nota:

"Vou beber até ver duas garçonetes.
Quem sabe uma delas resolve dar pra mim."

De: Boteco do Tulípio
Chegou.
Linda, como sempre.
Quente, como nunca.

Fritou minha pele
E molhou meus lábios.

(Só faltou vir, nua
Num bolo de morango
Com chantilly.)
-Vem cá, amor. Senta aqui.
-(...)



- Que há contigo?
-Nada.
-Conversa tua... Te conheço.
-Nada... É só que eu tenho pensado.
-Pensado em quê?
-Pensado.
-Em quê, oras?!
-Em tudo, na vida. Sei lá.



-Posso pensar contigo?
-Pode, ué.
-(...)



-(Te amo.)



-(É. Eu também.)



-Obrigada... Por me entender.
-De nada.

28 de fev. de 2009

"Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás".
Ernesto Guevara de la Serna.
Morto aos trinta e nove anos.
Médico, andarilho e revolucionário.


"Tem que enternecer, mas sem perder a dureza jamais".
Seu Manoel.
Sessenta e dois anos.
Casado com Dona Vitória há trinta e sete.
Taxista aposentado e consumidor inveterado de Viagra.

27 de fev. de 2009

Amor,

Eu só preciso me acostumar
Com o teu querer,
Poder,
Estar,
Vir,
Ser.

Foste (fui...)
És (sou?)
Serás (serei!)

-Será?

Enfim,
Como eu dizia:
Eu só preciso reaprender.
(A conjugar os verbos)
Eu a chamava de viúva-negra. Não só pelo óbvio de sempre se alimentar de mim após a cópula. Deixava meu corpo inerte sobre a cama. Também porque ia e voltava. Sempre à noite. Me envolvia naquela teia interminável que era sua falta de palavras, de sentimentos. Como se estivesse sempre de luto. Na última vez que a vi não houve abraços, beijos ou outras carícias. Muito menos frases de despedida. Não gostava de formalidades. Vestiu a calcinha vermelha e o jeans surrado, pôs o sutiã e nem se deu ao trabalho de procurar a blusa entre tantas outras coisas que estavam no chão. Disse apenas "tchau". Com um tom de voz tal que aquela palavra não me deu pista adicional sobre o que sentia ou pensava. Se me amava ou trepava por esporte. Tampouco esperou que eu abrisse a porta. Rodou a chave enferrujada na fechadura e saiu. Com a mesma indiferença com que entrava sempre. Seus cabelos pretos mesclados com o escuro da noite. Acordei com batidas à porta. Dez da manhã. Pensei que pudesse ser ela e me assustei ao receber, só de cuecas, dois policiais. Encontraram-na morta. Em casa. Comprovadamente havia cometido suicído. No espelho rachado, que trouxeram em um daqueles saquinhos hermeticamente fechados, reconheci meu nome. Mais que isso: reconheci o mesmo tom de indiferença com que havia se despedido na noite anterior. O mesmo "tchau", gravado com batom.

O mesmo tom de vermelho. (No espelho e em mim).


"A viúva-negra (Latrodectus mactans) é uma espécie de aranha teridiídea, distribuída por toda a América, de coloração negra, com larga mancha vermelha no abdome..."

25 de fev. de 2009

Me recebeu em sua casa, o relógio marcava três e meia da tarde, chovia pesado lá fora.
Toquei a campainha e seguiu-se uma sequência de aberturas.

Abriu a porta.
Abriu um sorriso.
Abriu os braços.
Abriu a geladeira.
Abriu a garrafa de vodca.
Abriu o zíper da minha calça.
Abriu a boca.
Abriu minha carteira.
Abriu a embalagem da camisinha.
Abriu as pernas.

E quando eu pensei que não havia mais o que abrir, deu-me um beijo e abriu seu coração.
Abriu meu peito com aquelas palavras... (E então)

Fechei meus olhos.
Fechei meus lábios sobre os seus.
Fechei meus braços ao seu redor.
Fechei minha mente.

E desejei que aquele momento não terminasse.

24 de fev. de 2009

Eu procurei estrelas no céu hoje à noite. Tinha certeza que, se encontrasse uma, estarias olhando o mesmo céu, a mesma estrela, e eu veria teus olhos refletidos nela. Mas hoje o dia está nublado, meu amor. Não consigo ver estrelas no céu. Nem teus olhos.

Quem sabe amanhã...

19 de fev. de 2009

Chegou no prédio onde morava, estava a mulher a arremessar todos seus pertences pela janela. Com sorte, suas revistas de mulher pelada e sua coleção inteira de filmes pornôs estavam caindo no macio do jardim, no térreo. Sua televisão de quarenta e duas polegadas e diversas garrafas de uísque doze anos não tiveram a mesma sorte.

- Janaína, mas que porra é essa mulher?!
- Seu canalha idiota, a puta da tua mãe só te ensinou sacanagem mesmo, não é? Da próxima vez que você for botar no cu daquela vadia, ao menos não vai beber com ela os uísques que eu ajudei a pagar!!
- Meu amor, pare com isso... Eu não tive nada com a Socorr [e nessa hora mordeu a língua, percebendo a grande merda que tinha feito].
- Ah, então o nome dela é Socorro! Diga, Socorro de quê, que eu vou agora mesmo encher a boceta daquela quenga com sabão Omo. Ao menos uma vez na vida essas tais "microesferas de limpeza" vão servir pra alguma coisa.
- Janaína!

Pela pirueta que o computador e o home-theater deram antes de se espatifarem no chão, e pela cara de indiferença da mulher, ele percebeu que teria de subir para falar-lhe pessoalmente.

- Amor, vamos deixar de bobagem, você sabe que eu te amo. A Socorro é apenas uma colega de trabalho.
- Isso é o que você sempre diz. Só se você trabalhar num bordel pra ter tanta rapariga como colega de trabalho. Vá pra puta que te pariu, seu [seus gritos foram abafados quando ele avançou sobre ela, beijou-lhe a boca, contendo-a com um abraço forte].
- Janaína, você sabe que ela não significa nada pra mim, eu te juro que se aconteceu alguma coisa entre a gente eu quero que chova canivete na minha cabeça.

Ela parou e analisou a situação em pensamento. "Apesar de tudo, é sempre pra mim que esse canalha volta. Tanta bunda por aí, e é a minha que ele quer pra ser dele." E, a despeito do absurdo de sua análise, ela o abraçou, o olho pecorrendo a casa: móveis, pratos, eletrodomésticos (e toda e qualquer coisa que os olhos pudessem enxergar) estavam destroçados. "Pelo menos esse filho da puta vai gastar mais uma nota comigo", e beijou-o na boca, arrastando o homem incrédulo pelo cinto, para a cama de casal semi-destruída. No outro dia, sem se lembrar de outra noite em que tivessem esfolado de tal maneira o seu pênis de tanto sexo, saiu pro trabalho, a pé, já que Janaína tinha também destruído a chave, pára-brisa e janelas do automóvel.

E quando virou a primeira esquina em direção à parada de ônibus, pôs a pasta sobre a cabeça para livrar ao menos os olhos dos canivetes.

18 de fev. de 2009

Eu gosto quando tô contigo, fazendo um carinho qualquer e vejo teu sorriso de satisfação. Estranho que, quando se está sozinho incorpora-se um ceticismo imenso, nunca acreditei que as pessoas são feitas uma para a outra, nunca acreditei nessa conversa de alma-gêmea e tudo o mais. O desconcertante nisso tudo é que, quando eu tô ali, sentado no sofá, as mãos nos teus cabelos, é exatamente nisso que acredito, ou que quero acreditar, não sei ao certo. Eu viajo, penso na minha vida, no antes, no depois, mas principalmente no agora. Eu gosto de olhar nesses teus olhos escuros, dessa tua pele branca, desse teu corpo de menina-moça na flor da idade, desse teu sorriso, desse teu jeito manso de falar de vez em quando (que me cativa), do teu abraço (e teu beijo), do jeito que me entendes e me desculpas quando entendo que errei, do modo como me elogias (mesmo sabendo que muitas vezes não sou tudo aquilo que dizes), de me imaginar no futuro (ao teu lado), dos teus cabelos, de te dar carinho, das tuas mãos, da tua bunda (é, da tua bunda), dos momentos alegres, do jeito que me incentivas a buscar o que é melhor pra mim, de quando me acalentas (me fazendo esquecer os problemas), de quando me olhas com ternura (depois de eu te ter olhado nos olhos escuros) e devolves o carinho, dizendo que me ama.
E talvez por saber que eu penso tanto nas coisas, é que, sem perder tanto tempo tentando explicá-las, eu olho nesses teu olhos escuros e te faço um carinho, beijo teus lábios e te digo "Eu também".
O sol já castigava suas costas fazia bastante tempo quando passou aquele homem em trajes elegantes. Seguiu-o por um instante, como que esperando alguma atenção; entretanto, não foi o que aconteceu. Como andava em sua sombra a fim de conseguir algum trocado, estranhou quando as moedas rolaram em sua direção, achou que o moço fino as havia deixado, o que provou-se inverídico, já que ele continuava a caminhar como se nada houvesse acontecido.

-Moço, as moedas.

Ele não ofereceu nem um segundo de sua atenção. Resolveu tentar mais uma vez, embora tentação mesmo fosse agarrar aquelas moedas sem dono, rolando na calçada. "Moço, as moedas aqui, olha!", e puxou a barra de uma das pernas da calça de linho, tão bem cuidada que a mão suja ficou marcada na roupa.

-Não tenho trocados, sai daqui!

Desistiu, então. Mas não guardou rancor do homem. Quando virou, era a felicidade que adornava o rosto raquítico com um sorriso. Segurou com força aqueles círculos de metal brilhante na mão.

Hoje não passaria fome.

14 de fev. de 2009

E como se ela fosse correr dali como quem corre da morte, no mesmo instante colou seus lábios nos dela, e desfez o beijo na boca carnuda em tantos outros no pescoço branco e esguio, enquanto acarinhava os cabelos pretos. No caminho topou com a nuca e aninhou seus beiços ali. Suas mãos agarravam as nádegas dela com ferocidade, puxando-a contra seu pênis, que se avolumava nas calças. As mãos, que antes o empurravam em franca negação, hesitavam no ar, os dedos abertos em leque. Ela sentia seu sexo, agora rijo a latejar contra as coxas e sua língua serelepe na orelha, uma das suas mãos agora segurando a cabeça com firmeza enquanto a outra ia descendo pelas costas, contornando o corpo, no ventre, e então sentiu seus dedos grandes friccionando a boceta. Os dedos dela curvaram nas suas costas, fazendo as unhas rasgarem a pele, quando um dos dedos dele começou a brincar com o clitóris. A pele era só arrepio e as mãos puxavam-no com força, quase fazendo os corpos ocuparem o mesmo espaço. Abriu com uma das mãos a porta do almoxarifado e puxou a cadeira de rodas que estava estacionada na frente, já não queria saber se iria ser pega ou demitida. Ele puxou a calça que marcava muito a bunda dela, jogou a calcinha em uma das prateleiras. Sua língua explorava cada milímetro da vulva, ela já não tinha vontade própria, de pé, braços apoiados na porta, os mamilos pulsando, róseos, todo o corpo pedia sexo. Empurrou o rapaz na cadeira de rodas, voltou a trancar a porta e tirou a blusa amarela que vestia o mais rápido que pôde. Não usava sutiã e agora podia-se ver os seios fartos, os bicos duros, a cara de cadela no cio. Abriu o zíper do seu jeans e empunhou seu cacete, lambendo as bolas enquanto o masturbava. Montou na cadeira de rodas, ainda segurando seu órgão pulsante com uma das mãos, posicionando-o na entrada da vagina. E então esqueceu quem era. Todo seu pensamento concentrou-se na sensação de prazer que emanava do genital em brasa, o membro entumecido mergulhando fundo nela. As únicas partes do corpo que controlava eram os quadris e as pernas, que se mexiam apenas no intuito de perpetuar o gozo. As mãos crisparam-se em torno do metal gelado da cadeira, e então ouviu os próprios gemidos, e sentiu o corpo adormecido tremer inteiro, os dedos dos pés dobrando, o suor viscoso escorrendo na pele, ouvia a própria voz, mas não era ela falando "mete, filho da puta!". Aí, quando pensou que os sons dos gritos e gemidos poderiam arremessar longe a porta do almoxarifado, quebrando chaves e cadeados, ela acordou. Estava exausta e visivelmente suada, mas as únicas coisas de que tinha consciência eram os gemidos distantes ecoando na cabeça e uma sensação estranha entre as pernas. Achou tudo muito esquisito, mas lembrou-se que tinha o que fazer. Ajeitou o sutiã que estava incomodando, tirou a saia que arrastava por debaixo dos chinelos, fechou a porta do almoxarifado e começou a levar as cadeiras de rodas pro andar de cima.

9 de fev. de 2009

Pessoas são como frutos:

Uns afoitos demais,
Caem verdes
Azedos ao paladar

Outros são tão doces
Que se melhoram,
Apodrecem no pé

E há aqueles que são indiscutivelmente podres.
Hoje
De noite
Abri
A janela
Do quarto,
Que dá
Pro mar;
Pulei
De olhos
Fechados
E voei
Sobre ondas,
Barcos,
Casas, luzes;
Fiz meia-volta,
Planei baixo
Sobre
A estrada
Seguindo
Os carros
Cujos donos
Não
Me viam;
Aterrisei
Meio sem-jeito
Ao teu
Lado;
Estavas dormindo;
Dei-te
Boa-noite,
Um beijo
No rosto
E saltei
Do telhado
Com um
Sorriso;
Voei
De volta
Para mim,
Com
A brisa
Que vai
Pro mar,
E entrei
Pela janela
Aberta
(Eu
Ainda dormia);
Quando
Vi você
Sair, então,
Pela mesma
Janela;
No rosto
Meu,
Um beijo,
No teu,
Um sorriso;
E voaste,
Olhos fechados,
De volta
Para ti
(Da janela
Dos olhos
Meus).

8 de fev. de 2009

Tomando nota:

"One more kiss tonight
From some tall stable girl
She's like grace from the earth
When you're all tuckered out and tame"

Iron & Wine | Calexico
'01 - He Lays In The Reins'
In The Reins EP (2005)
O futuro é incerto
Entretanto, mais que viver com medo da morte
A gente morre de medo da vida

E é isso que nos mantém vivos.

7 de fev. de 2009

Hoje meu dia morreu em tons de cinza,
Mas não me alegro com cores vivas:
A única que me faz falta é a cor branca.

(e salve o blues).
Tomando nota:

Pra quem sabe o que é saudade.

Luiz Gonzaga - Assum Preto/Ana Rosa

Letras: Assum Preto; Ana Rosa.
Não me perguntes o caminho, ele está aí, tão estendido à tua frente como se estendeu à minha; podes dispor da minha ajuda, segurar minha mão ao pular um obstáculo; mas não podes contorná-lo com meus pés, ainda que eu percorra o mesmo caminho infinitamente até que aprendas a trilhá-lo com os teus.

Não importa se os teus vêm ou os meus vão (quero teus pés junto aos meus).

6 de fev. de 2009

Estou preso. Em meio a tantas coisas que não posso identificar e que me asfixiam. Faço força e busco meu facão, acabo me desvencilhando. Caminho sem direção por caminhos que nunca vi, nas paredes não há retratos, não há nomes, não há. Vez por outra preciso usar a lâmina de novo pra cruzar lugares interrompidos. E eis que vejo luz, e as paredes agora destoam das cores a que me acostumei. Me aproximo, duas janelas grandes e redondas, mas trancadas. Meus olhos. E é através deles que eu vejo: ainda estou preso (dentro de mim).

1 de fev. de 2009

Tomando nota:

www.flickr.com/photos/derbyblue

(Putaqueopariu!)

31 de jan. de 2009

O trem tinha acabado de chegar na estação, a cortina de vapor a segui-lo. Um rapaz esperava a chegada, braço cingindo a cintura da garota, cabelos pretos e soltos pouco abaixo dos ombros. O trem estacionou com estridor, as pessoas começaram a (des)embarcar. O rapaz envolveu as mãos da moça entre as suas, deu-lhe um beijo na face e subiu. O trem ia longe quando ela abriu as mãos, um bilhete branco escrito a tinta preta, letra feia, porém firme:

"Talvez eu nunca seja bonito o bastante, nem tão cavalheiro.
Talvez eu nunca tenha dinheiro pra comprar-te o bastante.
Não seja alto o bastante, forte o suficiente.
Não seja esperto,
Elegante
Ou tão bem relacionado.
Talvez eu te faça sofrer de vez em quando, chorar...
Pode ser que eu esteja ausente algumas vezes (não por querer).
Mas de uma coisa tenho certeza: sempre há espaço em mim para um pouco mais de ti.
E o que sinto também nunca será o bastante, ou suficiente.
Portanto não chores, nem temas a minha ida;
Sei que parto hoje, mas em breve voltarei.

Guarda um pedaço do meu coração contigo.
Te amo."

Aquelas últimas palavras que não foram ditas encheram de cor a paisagem em preto-e-branco da despedida, e as lágrimas puderam dividir, com um sorriso, o rosto da moça (e do rapaz).

28 de jan. de 2009

Era escuro. Muito escuro. E frio. Espiou as mãos sujas, unhas malcortadas acumulando grude. Tinha tatuagens nos pulsos, uma cruz no esquerdo, um nome de mulher no direito. E feridas nos dedos, em todos eles. Marcas de faca, de mordidas, o dedo médio da mão direita estava marcado até o meio com sangue seco. As mãos atadas por uma fita plástica, resistente, havia marcas vermelhas em torno dela, já havia tentado soltá-la. Olhou ao redor. Concreto puro. Quatro paredes de concreto puro e uma porta grande de ferro, com um pequeno espaço por onde, diariamente, lhe empurravam aquela massa disforme que chamavam comida. Aquilo fedia. A roupa apertava. Cinza, tanto a camisa quanto as calças, apenas um número em vermelho na manga esquerda. Por baixo da roupa sentia as juntas doendo. Um dos tornozelos roxo e absurdamente inchado o impedia de andar. Pra que andar? O lugar onde estava tinha pouco mais de dois metros quadrados. Havia espaço apenas pra se mexer e não criar escaras, mas enfim, já tinha tantas feridas pelo corpo que não fazia a mínima diferença. Esquadrinhou as paredes, havia nomes, preces, recados diversos. Virou-se no chão, para o lado da parede em que tinha deixado sua marca também. Era um desenho tosco do rosto de uma mulher, feito com o sangue dos dedos. Aquele desenho tinha sido sua constante, algo que o deixava absorto, longe da realidade bruta que o levava à loucura. E foi olhando para o desenho que ele buscou a lâmina caseira, feita com o cabo da colher do almoço. As lágrimas escorriam na face. Fitou o nome no pulso direito. Sorriu pela última vez e beijou a parede no local marcado a sangue, posicionou a ponta contra o pescoço e abriu um talho que não teria feito no pior inimigo. Só largou o objeto quando sentiu o sangue esquentando as mãos, fazendo poças no chão, espirrando na parede, cobrindo as preces. Teve tempo ainda de beijar a cruz no pulso esquerdo, antes que perdesse a consciência. E agora era tudo escuro, mais escuro que aquele buraco em que o haviam enfiado. Não sentia mais o cheiro do sangue, não sentia mais dor, não sentia mais medo. Sentia apenas a liberdade que lhe tiraram.

E se foi.
A melhor companhia de um homem solitário, além da bebida, são as letras.

27 de jan. de 2009

Hoje eu cuspi no prato em que outrora me alimentei fartamente.
Sigo com o fantasma da vergonha a me devorar os sonhos.






(...que seja rápida esta noite)

26 de jan. de 2009

Espera, fica mais um pouco...

Não sabes que eu não pisco porque meus olhos querem decorar teu rosto?
Minha mão se nega a descansar, minha pele quer decorar a tua.
Não falo porque quero te ouvir, decorar tua voz.

...agora vai. Logo terei que ensinar meu corpo a te esquecer.
E no auge da minha insegurança meus olhos abriram.
Peguei o telefone no criado-mudo e disquei, inconscientemente.

-Cadê você? Tô com saudade, quero um abraço.
-Tô aqui, do teu lado.

Virei, era verdade.
Ela estava ali, com os mesmos olhos de sempre a me fitar.

25 de jan. de 2009

Te dou minha palavra, mulher, eu te amo
Infelizmente essa é a melhor garantia que posso te dar

Agora olha nos meus olhos e acredita
Salva-me de mim mesmo, eu te peço
Por favor, dá-me tua mão
E não me deixes afogar nas minhas próprias lágrimas

(Não permitas que eu deixe escapar por entre os dedos a felicidade que apertei tão firmemente contra o peito)


- Quando io guardo allo specchio, vedo te, capiche?

24 de jan. de 2009

Entrei no banheiro de azulejos _ _ _ _ _ _ _ e gastos, mostrando o reboco na parede.
_ _ _ _ _ _ dos olhos que fechei e rodei pra trás, tentando espiar o interior do crânio, e lá estavam elas, ainda vivas, memórias da noite anterior, pululando na substância _ _ _ _ _ _ _ _ do meu cérebro.
O mesmo _ _ _ _ _ das piolas de cigarro que agora mancham a cor do meu sofá _ _ _ _.
_ _ _ _ da calcinha esporrada jogada sobre o velho carpete _ _ _ _ _ _.
Mesmo _ _ _ _ _ _ da merda boiando no vaso do banheiro de azulejos _ _ _ _ _ _ _.

Cores que eu não sei o nome.
Cores de Almodóvar.
Cores de Frida Kahlo.

Acho que bebi demais.

23 de jan. de 2009

Guardo ainda na face a marca em alto relevo das unhas de Ivete, daquele dia em que a humilhei e, depois, com desprezo, dei-lhe meu dinheiro suado de estivador no cais. Lembro-me como se fosse ontem, a cólera a colorir sua face de vermelho-tomate, a mesma cor do esmalte barato que descascava nos fâneros em seus dedos calejados de tanta punheta. Sabe-se lá quantos outros estivadores como eu desbravaram o refúgio nas entrecoxas quentes da nêga Ivete. "Era mulher de muitos" como ela mesma me dizia. Negou minha proposta de amancebar-se comigo no casebrezinho de madeira à beira-mar. Cozinharia pra mim, daria-me filhos fortes, deixaria o bordel. Mesmo depois de jurar meu afeto por ela, negou-se a vir comigo. Ofendi-a, então, não sei por que motivo, Ivete nunca me tratara mal, pelo contrário. Gritar "puta" não era ofensa no caso dela. Envergonho-me até hoje do que disse aquela noite, estimava muito aquela mulher: corpulenta, pernas torneadas, muitos anos de bordel e ainda conservava o charme que deixava homens de quatro por ela, ainda que os anos não tivessem sido generosos com seu rosto. E mais, dizia-me sempre a verdade, remediava meus problemas, nem sempre com sexo, se bem que pode-se dizer que este último quesito era sua especialidade. O pesar que sinto hoje por tê-la perdido é ainda maior que a dor excruciante que senti na hora. O sangue quente da minha cara coloriu de novo as unhas gastas e manchou o vestido de chita surrado. Jogou sobre mim o dinhero que dei, e ficou ali, na soleira a apontar, com os dedos ainda sujos de porra, a saída.

Nunca mais vi Ivete. Minha vida nunca mais foi a mesma.

22 de jan. de 2009

Tenho medo quando me olhas assim, com esse teu olhar de raios-x, a perscrutar todo o meu interior, analisando tudo de podre e ruim que tenho, entras através da minha retina e vês inclusive meu medo, percebes meu suor frio a empapuçar as mãos e plantas dos pés, meu coração ritmo-de-metralhadora, e então, quando penso que tudo está perdido, do mesmo modo com que me causas medo, esboças um sorriso, teus olhos estreitando, tuas mãos a espiar meu corpo no toque, e é aí que sugas tudo num beijo e me tranformas no que queres, naquilo que sou.

Agora não tenho mais medo, isso é fato.

20 de jan. de 2009

Verão... céu, sol, sal e mar, ah! mar, quero amar de novo ao alcance desse teu hálito de sal, saudade desse verão tão quente, tão magnifíco, tão louco, tão rápido... dessa sensação infinita de liberdade que é molhar os pés na água de manhã, sorrisos na areia, areia nos poros e os poros em êxtase, felicidade brotando nos rostos com um gole de cerveja, alegria brotando nos corpos com um mergulho, bebida brotando nos copos e mais sorrisos, pessoas brotando do nada, jogos, gritos, violões, batuques, piadas, conversas sem sentido na madrugada, mais música, mais alegria, mais sorrisos, mais amigos, mais amor, mais tesão... ah, verão...

...mais saudade.

3 de jan. de 2009

... e me sinto só em meio à multidão.