30 de mar. de 2011

O que é o tempo, minha cara?
Será ele essa entidade indestrutível
Inabalável poder
Que une e separa, que constrói e destrói?
Ou será o tempo apenas remédio
Para as dores mais profundas;
Que fará o tempo com a minha dor
Ela, que perpassa a carne?

Que distância é essa, querida
Que mutila os apaixonados,
Mas dá força aos que escrevem,
Que adentram as noites, que se perdem
Em devaneios oníricos, para acalentar
O frio que nem o mais quente dos sóis
Pode apaziguar?

Que hora é essa, reflexo de mim?
Olho pela janela aberta e vejo a cidade gritando
Mas nada ouço;
Que hora é essa, alma gêmea?
Teu lugar está guardado à cama
Ainda têm teu cheiro os lençóis
Que não esqueçam de nós, as madrugadas
Que não fique muda a voz, que me chama:

"Vem... Faz frio aqui, sem você."

22 de mar. de 2011

Tomando nota:

"Quem tem saudade não está sozinho
Tem o carinho da recordação
Por isso quando estou mais isolado
Estou bem acompanhado com você no coração

Um sorriso,
Um abraço e uma flor
Tudo é você na imaginaçao
Serpentina ou confete, caranaval de amor
Tudo é você no coração
Você existe como um anjo de bondade
E me acompanha nesse frevo de saudade."

Frevo de Saudade (por Nelson Ferreira)

Querida,
Que mulher a tua mãe
Fez-te bela, pura candura
Esculpiu esse teu corpo
Que deste mundo nao é

Querida,
Quando vier me ver
Despe-te devagar
Masturba o meu cérebro
Que é de carícias cansado

Mas, querida,
Quando quiseres me deixar
Me escreva
Mas passe a carta por baixo da porta
Porque quando vim ao mundo nada trouxe
Neste mundo nada fui
E, quando partir
Dele nada quero levar

Só o registro das tuas curvas no cume dos meus dedos
Só a lembrança da tua, na ponta da minha língua
E o pouco, quase nada, do amor por ti, no fundo da minh'alma

Há de constar, Cristina, na minha lápide
O seguinte epitáfio:

"Aqui jaz T.
Nem pai, nem filho, nem espírito
Apenas um coração cansado de viver."
Acordo de supetão
Arfo
Penso que te ouvi chorar
Estás a olhar a lua, meu amor
Te acaricio
Só o brilho dos teus olhos negros me responde
Grande a lua hoje, meu amor
Só nossa, a lua
Sinto minhas entranhas agitarem
Só o sopro do vento me responde
Te abraço por trás
Sinto tua pele, teus pêlos
Sinto teu frio, teu arrepio
Sinto teu coração de loba a pulsar
E essa lua gigante com ele a pulsar

Some feito morcego na noite escura teu uivo
Travestido de choro

Somos dois lobos no frio branco-gélido da Sibéria
E eu não me lembro da última vez que fomos gente.