25 de ago. de 2010

- Jão, qui merda é essa?! Pensei qui cê tava na lida, hômi! Tá fazeno o quê im casa essa hora, porra... Os minino chorando aí i você cantando, rapai?
- Tem qui cantá, amô. Os dia tão cada vêis mais difícil, né? Ó isso. É tudo o qui sobrô depois da fêra. Olhi qui num comprei muito, não. Capricha na farinha qui os trocado são pa cachaça, visse?. Comprei essas flô, murcha, tava na promoção... pa tu. Tem qui cantá, amô. Num si vive como antigamente, hã? A pressão hoje né dos milico, não. A moral é dos hômi dos morro, cum aqueles tal di fuzil acá, uzi banhada a ôro, lançadô di granada contra revórvi i peito di policial. Perdeu, perdeu. Tem qui cantá, amô. Como qui trabaia pa comprá o pão? Falta imprego pa mim, pa tu, pa disgramada da tua mãe. Vai faltá pros nosso filho, os coitado, que Ciço abençoe. Tem qui cantá, amô. Cadê educação? O povo mal sabe assiná o nomi. As criança tão cansada di isperá livro i arrois, cresci na basi do crack i prostituição. Olhi qui só o qui tem é puta fazeno dinhero i eu aqui liso. Só os dotô por aí falano qui os minino é o futuro do país, aham... Tem qui cantá, amô. Nem nos funcionário di Deus vali a pena confiá mai, muié! Cuida po Pedim num andá dando o
caneco presses fila da puta, vissi? Tem qui cantá, amô. Depois disso tudo qui eu falei, a saúde di nóis tá uma bosta danada. Onde nóis si trata? Diz qui os ricurso tão si multiplicando pra saúdi, mais o qui multiplica é fila. Os posto daqui perto tão tudo sem médico. Morri genti nos corredô dos hospitar sem sê atendido. Tem qui cantá, amô. Num vê esses viado qui a gente confia? Vão tudo si abrindo pra Brasília. Magote di corno, só servi pa inchê as rôpa cum dinhêro da genti. Ninguém vê o que aconteci cum nóis não, muié. Tem mermo é qui cantar, porra. Num vê as música de hoje em dia, não? Essas pôrra di forró eletrônico é virado num traqui até na terra do forró tradicioná, pé di serra. Sem falá nessas banda lá dos sul, cum os diabo si rebolando, tudo a merma merda. Tem que cantá, caraio! Causo qui a voz da genti si acaba reclamano i nada muda nesse furico di país. Vô gastá o resto cantano. Si quisé, sobrô o triango, aí cum o Valmi. Si não, vá pa casa do caraio, i quando vortá trais umas cerveja, qui po lá devi di tá bem mió qui aqui.

23 de ago. de 2010

O desamor
Em seis passos escrevi
Ela se foi
Restam as lágrimas
As lágrimas não mais
Os olhos permanecem
Se forem os olhos?
O cheiro fica
Vai-se o cheiro
Mas não a lembrança dele
Perdida a lembrança
É derradeiro o desejo
Sem desejo, não mais existo.

E pensar que, em um só passo de dança, fez-se o amor.

17 de ago. de 2010

Tava no computador curtindo um reggaezinho na boa e a Jaqueline veio com aquela conversa de que queria discutir a relação e tudo o mais. Fingi não ouvir e ela ficou puta da vida. Tomei um tapa tão miserável que o fone caiu e, ainda assim, continuei ouvindo música nos meus ouvidos. Como dizia uma prima minha, Jah proverá.

10 de ago. de 2010

Injetei no braço esquerdo, logo depois da curvinha do cotovelo, como me mandaram fazer. Trinquei os dentes esperando o pior. Acordei em uma praia deserta, quilômetros e quilômetros para cada lado, sem sequer pegadas de gente. Entrei em desespero. deveria correr o máximo que pudesse, esperar, gritar? Decidi correr, correr em busca de alguém, odiava a solidão. Corri, minhas pernas desmancharam depois da décima curva. O sangue gorgolejava na areia e virava ácido a dissolver minha pele. Urrando em dor, pude ver cobras brotarem de onde antes estiveram minhas pernas e se prepararem para o bote. A primeira atacou meu pênis, das bolas surgiram asas e ele voou para longe. Caralho de asa!, gritei. A outra avançou contra meus olhos. Foi a última coisa que vi. Gritei no escuro durante horas a fio. Minha visão tornou após alguns dias, pelas minhas contas absurdas. Estava em um buraco no chão, forrado de veludo por dentro. Uma mão apareceu e me puxou de lá, e eu senti como se pesasse diversas toneladas. Ainda zonzo, arranquei o garrote do braço. Risadas ao redor. Percebi que outras pessoas estavam sendo puxadas de seus buracos forrados de veludo e vi no rosto delas como deveria estar o meu nesse momento. Gargalhei. E pronunciei a única coisa que veio à mente. Um puta-que-o-pariu bem espaçado.