23 de out. de 2012

É foda ter que falar 'foda' entredentes
Enquanto putas gementes
Alegram marmanjos indecentes
Sentados em seus sofás decadentes
Eu vivo sonhando
Não sei por que, de certo
Mesmo com os olhos abertos
Mas o que de há de errado,
Pois, em viver voando,
Se, de vez em quando,
Todos querem ter asas?
Ela perguntou, assim, meio sem jeito, se eu tinha pressa, ao que confirmei com um aceno de cabeça.

Despiu-se então do pudor e das roupas, nessa ordem.

Tinha ela os seios pequenos, com mamilos bem rosados. As costas nuas eram uma obra-prima. Não soube por onde começar, ou terminar. Fato é que nada aconteceu como eu imaginara: se pensei em beijar-lhe a boca, o pescoço pareceu irresistível; se achei que a coisa toda aconteceria rápido demais, me enganei - primeiro, quando ela se demorou infinitamente em meu sexo com os lábios, depois, o gozo pareceu interminável quando a olhei nos olhos, estando por cima ou abaixo dela.

Por fim, lavou-se, penteou os longos cabelos castanhos e amarrou-os com uma fita azul.
Salpicou algo cheiroso sobre o colo e vestiu as roupas com a mesma habilidade com que as tirou.

- Produzirei tempestades para te açoitar, se for necessário para que retornes - ameacei.
- Não duvido.

E foi-se montada na garupa de uma águia gigante de olhos verde-esmeralda.
Senta, amigo
E reflete

Tuas nádegas são preço barato comparado ao que aprendes

Grita, amigo
E questiona

Tua voz é preciosa arma contra o ócio induzido pelo mundo em que vives

Pula, amigo
E festeja

Pois, desde que nascestes, estás morrendo

Deita, amigo
E dorme

Uma lua sempre vem no pôr-do-sol

Acorda, amigo
E agradece

O sol sempre beija o mar antes de te dar bom-dia.

14 de out. de 2012

Guardar sentimentos por medo da perda é desperdício de tempo.
Abramos um furo no peito e deixemos o mundo entrar por ele, devagar,
[enquanto põe o amor para fora.]


Até que não reste ar em nossos pulmões,
Nosso último suspiro
[feliz.]

10 de out. de 2012

É tarde
E o garoto se aperta contra o dorso
Da gigante víbora de escamas vermelhas
Que serpenteia no vale entre a campina
E a praia de cascalhos

Sssss...
Ssssssssssssilvando histórias perdidas há muito
E músicas ouvidas há pouco
Entre venenosas presas de luz

Cortada a serra
Transpassado o vale
A grande cobra vermelho-rubi
Explode em incontáveis estrelas
Cor-de-chama

E o homem retorna
Pouco a pouco
Ao infinito repetido da rotina,
Como uma ouroboros
Devorando a própria cauda

Aninhado numa montanha
De lençóis bordados de barcos azul-turquesa
Ele sonha com as velas,
Empurradas por um vento de monção
Que o irão levar de volta ao começo

Onde ele transborda alegria,
Amor e canção
Onde o começo e o fim são o mesmo ponto
Ontem e amanhã são o mesmo dia
E se paga o mesmo preço
Tanto bom quanto melhor
Logo só se escolhe o segundo

Neste lugar,
Em curto espaço de tempo,
O agora se torna inesquecível
E você, homem-feito-garoto
Sempre quer voltar de carona,
Nas costas de uma píton de fogo

Fim-começo,
Desenhando um oito, infinito
Como a serpente de ouro.