31 de jan. de 2012

É com pesar que parte o cavaleiro
Todo aço e saudade

No claustro da armadura
O coração toca todos os ritmos
Despedindo-se com música

Quando mais irá ouvir a voz da amada?
Que será de seu corpo sem a mulher
Para cavalgá-lo, garanhão, puro-sangue
Pura honra?

É com dor que se despede a senhora
Toda negra, tudo é luto

E é com força que luta
Pra sobrepujar o peso
No coração seu

Quando mais se abrilhantará aos olhos
A prata dos cabelos do seu homem?
Que será de sua vida sem um rumo,
Sem uma certeza, sem um mastro
Num sentido e no outro?

Serão ele e ela uma galé à deriva
No oceano de incertezas que é a guerra

Ele, sem o ritmo para lhe empolgar os remos
Ela, sem o brilho das estrelas
Para lhe dar prumo

Depois, só depois
Retornará o homem
Hasteada a glória sobre a cabeça
E pisoteado o coração sob os pés
Corpo e alma quebrados

Depois, só depois
O receberá com beijos e ancas
A mulher, um sorriso de ouro
Jóia trabalhada na carne dos lábios
Os de cima e de baixo

Mas depois, só depois...

Por enquanto os sinos dobram
Por enquanto toca a corneta de guerra
Por enquanto uivam os lobos
Por enquanto tremulam os estandartes
Por enquanto ele sua, e ela tece
Por enquanto ele é espada, ela é prece

E só compartilham lágrima.