28 de jan. de 2009

Era escuro. Muito escuro. E frio. Espiou as mãos sujas, unhas malcortadas acumulando grude. Tinha tatuagens nos pulsos, uma cruz no esquerdo, um nome de mulher no direito. E feridas nos dedos, em todos eles. Marcas de faca, de mordidas, o dedo médio da mão direita estava marcado até o meio com sangue seco. As mãos atadas por uma fita plástica, resistente, havia marcas vermelhas em torno dela, já havia tentado soltá-la. Olhou ao redor. Concreto puro. Quatro paredes de concreto puro e uma porta grande de ferro, com um pequeno espaço por onde, diariamente, lhe empurravam aquela massa disforme que chamavam comida. Aquilo fedia. A roupa apertava. Cinza, tanto a camisa quanto as calças, apenas um número em vermelho na manga esquerda. Por baixo da roupa sentia as juntas doendo. Um dos tornozelos roxo e absurdamente inchado o impedia de andar. Pra que andar? O lugar onde estava tinha pouco mais de dois metros quadrados. Havia espaço apenas pra se mexer e não criar escaras, mas enfim, já tinha tantas feridas pelo corpo que não fazia a mínima diferença. Esquadrinhou as paredes, havia nomes, preces, recados diversos. Virou-se no chão, para o lado da parede em que tinha deixado sua marca também. Era um desenho tosco do rosto de uma mulher, feito com o sangue dos dedos. Aquele desenho tinha sido sua constante, algo que o deixava absorto, longe da realidade bruta que o levava à loucura. E foi olhando para o desenho que ele buscou a lâmina caseira, feita com o cabo da colher do almoço. As lágrimas escorriam na face. Fitou o nome no pulso direito. Sorriu pela última vez e beijou a parede no local marcado a sangue, posicionou a ponta contra o pescoço e abriu um talho que não teria feito no pior inimigo. Só largou o objeto quando sentiu o sangue esquentando as mãos, fazendo poças no chão, espirrando na parede, cobrindo as preces. Teve tempo ainda de beijar a cruz no pulso esquerdo, antes que perdesse a consciência. E agora era tudo escuro, mais escuro que aquele buraco em que o haviam enfiado. Não sentia mais o cheiro do sangue, não sentia mais dor, não sentia mais medo. Sentia apenas a liberdade que lhe tiraram.

E se foi.

Um comentário:

Junior disse...

parece trailer de filme

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