16 de abr. de 2014

Carta a um grande amor II:

Preciso te dizer uma coisa. Pediste que explicasse as minhas lágrimas.

Acho que me encontro neste estado por tua causa. Não por tua culpa, eu tomo minhas próprias decisões. Culpa daquele beijo na praia. Eu já disse que outras me seduziram. Já disse que me apaixonei por outras. Mas nenhuma delas teve a disposição, ou digamos assim, coragem de me libertar. Desde então eu estabeleci um objetivo, uma direção: ser feliz contigo, ou pelo menos tentar. Eu sei que tropecei algumas vezes pelo caminho, me desculpe por isso, mas o objetivo continuou claro pra mim. Ninguém nunca me entendeu, ou pelo menos fingiu que entende, da maneira que tu fazes. Eu sinto que tu conheces meu corpo e, principalmente, minha mente, como a palma da tua mão. Sinto que, por mais que tente, não consigo esconder minhas angústias e preocupações de ti. És como uma esponja e parece que, toda vez que estamos juntos, toda minha tristeza e apreensão desaparecem, como se sugadas por alguma força sobrenatural. E isso não é dizer pouco; afinal de contas, eu sou um cético chato (ou um chato cético), sabes bem disso. Daí o objetivo ser tão claro pra mim como é tua pele. O problema é que parece que quanto mais eu me esforço pra cumprir essa meta, mais ela parece distante e inatingível. Eu sinto, às vezes, quase conseguir tocar esse momento; é sublime a felicidade; tem gosto de doce dividido, tem o gosto do teu beijo, tem teu gosto; mais que tudo, tem o gosto daquele beijo na praia, quando tudo começou. O triste de tudo é que não me sinto livre, ainda. Como eu disse, cada vez que eu tento ter esse momento pra mim, cada vez que eu tento me abraçar a ele com todas as forças que tenho, cada vez que mergulho fundo e de cabeça nessas águas, elas ficam turvas; é como nadar contra a corrente. És meu rio. És minha vida; penso, porém, que cada vez que tenho de pular fora d'água pra poder ver o meu caminho e vencer a turbulência, eu te perco um pouco. Eu sei, meu amor, que águas passadas não movem moinhos. Sei também que sou outro a cada salto e são novas as águas a cada mergulho. É aí que me pergunto: quando chegarei à cabeceira? Quando é que depositarei meu amor e darei concluída esta tarefa, este objetivo?

Só peixes mortos nadam com a corrente, disse alguma vez algum pensador em algum canto esquecido deste mundo tão grande. Eu não penso assim. Penso que, findo meu caminho, poderei relaxar e nunca mais terei de pular fora de ti pra ver onde vou. Confiarei minha vida às tuas águas; só então, o meu objetivo, a minha direção, o meu destino será o mesmo do teu: ganharemos juntos a imensidão do mar, meu amor, mesmo sendo eu outro peixe e tu, outro rio.

Espero a próxima tempestade, para que a chuva traga mais de ti para mim.

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